Mitologia Lusitana
Atégina - Deusa Tripla: da Natureza, da Cura e Infernal. Identificada pelos romanos por Prosepina, daí ser considerada mais tarde, de Deusa Infernal, que desaparece no Submundo para depois renascer. Deusa de Turóbriga (Betúria Céltica), sede do seu culto, provém do céltico Ate- (irlandês antigo Aith) e gena, que significa Renascida , sendo uma Deusa da fertilidade e dos frutos da terra, que renascem todos os anos, portanto ligada à Terra e ao Renascimento. Era-lhe também prestado um culto devotio, que consistia em invocar, através de certas fórmulas, divindades para prejudicar alguém (da simples praga até à morte). Era, contudo, também Deusa Curadora, como comprovam muitas inscrições. Tal como Endovélico, poderá ter sido a divindade principal de uma Trindade, a sul do Tejo, juntamente com um Arenito (Deus da Força) e de Quangeio(?) (Deus da Fertilidade).
Ares Lusitani – Deus adorado a Norte do Tejo. Os Lusitanos, segundo Tito Lívio e Estrabão, sacrificavam um bode e cavalos de guerra. É possível que exista uma estreita analogia entre a iniciação cavaleiresca e a simbólica do cavalo como veículo da demanda espiritual. Neste sentido, o cavalo era o símbolo do guerreiro, daquele que se eleva ao céu pelo seu triunfo ou pelo seu sacrifício.
Bandonga – Deusa conhecida por uma inscrição que contém uma interessante referência a um indivíduo de nome Celtius, podendo aqui referir não tanto um nome próprio mas mais um nome de proveniência étnica, isto é, “dos Celtas”. O nome da Deusa parece comprovar esta teoria, pois Band significa em celta “ordenar” ou “proibir”, mas também um prefixo feminino (ainda hoje usado na Irlanda, com por exemplo em Banshee).
Bormanico – Deus ou Génio tutelar das águas termais; equivalente a Esculápio. O seu nome significa “faço ferver”, isto é, a água que brota nas caldas. Esta entidade pode ter um carácter iniciatório. Com efeito, «na água tudo se “dissolve”, toda a “forma” se desintegra, a toda a “história” é abolida (…) A imersão equivale, no plano humano, à morte e no plano cósmico, à catástrofe (dilúvio) que dissolve periodicamente o mundo no oceano primordial (…) As águas possuem a virtude da purificação, de regeneração e de renascimento, porque mergulhado nela “morre” e, erguendo-se das águas, é semelhante a uma criança sem pecados e sem “história”, capaz de receber uma nova revelação (Eduardo Amarante, 1991).
Cariocecus – Deus Lusitano da Guerra, equivalente a Marte (Ares). Segundo Estrabão, “ofereciam um Bode e os prisioneiros e cavalos (de guerra?)”. Como é sabido, os Lusitanos: “Tinham presságios da inspecção das vísceras dos prisioneiros de guerra, para o que os cobrem com saios…; cortando a mão direita dos cativos, consagram-nas aos Deuses”.
Durbedicus – Nome decomposto em Durb (irl. ant. drucht, “orvalho”) + ed + icus, estes últimos sufixos comuns entre os celtas. Seria assim, “o Deus que goteja”, ou seja, um Deus ligado à àgua, de uma fonte ou do rio Avus, que passa perto de Ronfe, onde a inscrição foi encontrada.
Endovélico - O mais conhecido dos Deuses Antigos da Lusitânia, semelhante ao Deus celta Sucellus (lê-se Suke-los) de cujo o culto existem vestígios. O seu templo no outeiro de S. Miguel da Mota, perto de Terena no Concelho do Alandroal, no Alentejo, foi estudado abundantemente. Investigações recentes mostram que Endovellico está presente numa área geográfica maior do que se julgava e revelaram inclusive novos locais de culto de origem nitidamente indo-europeia, pelo que a atribuição de Endovellicus aos celtas é por muitos aceite. Leite de Vasconcelos explicou que o nome céltico Andevellicus, compara-o com nomes galeses e bretões, dando-lhe o significado “o Deus Muito Bom” curiosamente o mesmo espíteto do deus irlandês Dagda. Atribui-se-lhe a característica de Deus tópico do outeiro onde seu culto se realizava e também de um Deus da Terra e da Natureza. De origens antigas, foi no período celta que melhor se definiu (e daí o seu nome céltico), tendo os romanos prestado homenagem e culto, como se comprova pelos numerosos ex-votos por eles deixados. Endovélico poderá ter sido o Deus principal de uma Trindade juntamente comAtégina e um Runesocesius. As provas arqueológicas remetem-nos para uma divindade do mundo subterrâneo dotada para a profecia e protectora da vida após a morte. Arcanjo Miguel assume, posteriormente, o papel de Endovélico, como patrono de Portugal (Lusitânia).
Mars Cariociecus – Divindade local, cujo culto se fazia na região da Galiza (Tuy). Leite de Vasconcelos esgrime entre a hipótese do elemento cario provir do celta corio que significa corpo de tropas.
Navia - ou Nabia, Deusa tal como Tongoenabiagus, é uma divindade da Água, associada a rios, pois existem vários com esse nome em alguns lugares em que apareceram as inscrições onde também passam rios. Significa “água corrente”
Nantosvelta (Gaulesa) – Deusa da Natureza; esposa de Sucellus.
Runesocesius – Deus da região eborense referido como Runesus Cesius, sendo a segunda partícula um epíteto. Atribuem-lhe origem céltica e significa “O Misterioso” do irlandês antigo Run-, “mistério”, e/ou de “armado de dardo”, que seria o seu epíteto segundo um mote celta. Ora, “O misterioso” pode ser considerado “O Deus”, sendo assim Runesocesius “O Deus dos Dardos” ou “O Misterioso armado do Dardo”. O seu carácter guerreiro é indiscutível.
Sucellus (Gaulês) – Deus da Agricultura, das Forestas e das bebidas alcoólicas (é muitas vezes representado a carregar um barril de cerveja, (suspenso numa estaca), e um martelo de Deus. A sua consorte é Nantosvelta.
Tongoenabiagus – Deus da(s) fonte(s) dos juramentos, (o seu nome significa Deus da fonte que se jura). Existe na cidade de Braga uma fonte dedicada a este Deus, pelas promessas feitas junto da mesma. Compreende-se, portanto, que se fizeram juramentos por Ele, junto da fonte(s) da sua Invocação. E quem jurava, diria pouco mais ou menos o que num texto antigo da Irlanda acerca do festim de Bricriu (Fled Bricrend) se diz: “tong a toing mo thuath” (juro o que jura o meu povo). Compreende-se assim, que se fizessem juramentos por Tongenabiago, junto da fonte da sua invocação.
Trebaruna – Divindade inicialmente doméstica, passando depois para a sua função mais conhecida de Deusa Guerreira, da batalha e da morte em batalha. Muitas inscrições referem-se a esta característica da nossa deusa. O nome, explica-o d´Arbois de Jubainville, eminente celtista do princípio do século, porTrebo + runa, isto é, “Segredo da casa”.
Turiacus – Divindade dos Gróvios (povo de Entre-o-Douro-e-Minho), decompõe o nome em Turius +
acus, e compara-o com uma inscrição irlandesa (Tor í rí no tighearna). É um Deus Poderoso, relativo ao poder, pois tor, significa, Rei ou Senhor.
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