Quinto Império
A referência ao Quinto Império surge na Bíblia e torna-se mito nas interpretações que sucederam ao longo dos tempos. Em Portugal, Bandarra (1500?-1556), Padre António Vieira (1608-1697) e Fernando Pessoa (1888-1935) reformulam o mito.
De acordo com a Bíblia, Nabucodonosor, rei da Babilónia (604-562 a.C.), queria que os sábios lhe revelassem o sonho que tivera e a sua interpretação. O sonho envolvia uma enorme estátua com cabeça de ouro, peito e braços de prata, ventre e ancas de bronze, pernas de ferro e pés de barro, à qual uma grande pedra, que se desprendeu da montanha, triturou os pés, fazendo tudo em pedaços. Foi o profeta Daniel que lho revelou e decifrou, mostrando-lhe que o nascimento e a queda de impérios acontecem pela vontade de Deus, embora pareça dos homens essa missão. Diz Daniel (2:37-44): "Tu que és o rei dos reis, a quem o Deus dos céus deu a realeza, o poder, a força e a glória; a quem entregou o domínio, onde quer que eles habitem, sobre os homens, os animais terrestres e as aves do céu, tu é que és a cabeça de ouro. Depois de ti surgirá um outro reino, menor que o teu; depois um terceiro reino, o de bronze, que dominará sobre toda a terra. Um quarto reino será forte como o ferro" e, mais à frente, "No tempo destes reis, o Deus dos céus fará aparecer um reino que jamais será destruído e cuja soberania nunca passará a outro povo". Daniel profetizou que depois da grandiosidade do império da Babilónia, sucederiam outros, que de acordo com as interpretações mais correntes são o Medo-Persa, o da Grécia e o de Roma, sendo o Quinto Império universal.
O Padre António Vieira, ao desenvolver o mito do Quinto Império, considera que, depois desses grandes impérios liderados por Nabucodonosor (da Babilónia ou dos Assírios), por Ciro (da Pérsia), por Péricles (da Grécia) e por César (de Roma), chegará o Império Universal Cristão, o Quinto Império, liderado pelo Rei de Portugal. Diz Vieira em História do Futuro: "Chamamos Império Quinto ao novo e futuro que mostrará o discurso desta nossa História; o qual se há de seguir ao Império Romano na mesma forma de sucessão em que o Romano se seguiu ao Grego, o Grego ao Persa e o Persa ao Assírio".
Fernando Pessoa, na obra Mensagem, anuncia um novo império civilizacional, que, como Vieira, acredita ser o português. O "intenso sofrimento patriótico" leva-o a antever um império que se encontra para além do material. No poema "O Quinto Império", afirma: "Grécia, Roma, Cristandade, / Europa – os quatro se vão / Para onde vai toda idade. / Quem vem viver a verdade / Que morreu D. Sebastião?"
Para o Poeta, "A esperança do Quinto Império, tal qual em Portugal a sonhamos e concebemos, não se ajusta, por natureza, ao que a tradição figura como o sentido da interpretação dada por Daniel ao sonho de Nabucodonosor. Nessa figuração tradicional, é este o seguimento dos Impérios: o Primeiro é o da Babilónia, o Segundo o Medo-Persa, o Terceiro o da Grécia e o Quarto o de Roma, ficando o Quinto, como sempre, duvidoso. Nesse esquema, porém, que é de impérios materiais, o último é plausivelmente entendido como sendo o Império de Inglaterra. Desse modo se interpreta naquele país; e creio que, nesse nível, se interpreta bem. Não é assim no esquema português. Esse, sendo espiritual, em vez de partir, como naquela tradição, do Império material de Babilónia, parte, antes, com a civilização que vivemos, do Império espiritual da Grécia, origem do que espiritualmente somos. E, sendo esse o Primeiro Império, o Segundo é o de Roma. O Terceiro o da Cristandade, e o Quarto o da Europa – isto é, da Europa laica de depois da Renascença. Aqui o Quinto Império terá de ser outro que o inglês, porque terá de ser de outra ordem. Nós o atribuímos a Portugal, para quem o esperamos." (Textos transcritos por António Quadros, em Fernando Pessoa, Iniciação Global à Obra)
A crença no Quinto Império persegue Fernando Pessoa, como se vê pela entrevista a Alves Martins (1897-1929) em Revista Portuguesa, nº 23-24, de 13 de outubro de 1923, onde à questão sobre o que calcula que seja o futuro da raça portuguesa, responde: "O Quinto Império. O futuro de Portugal – que não calculo, mas sei – está escrito já, para quem saiba lê-lo, nas trovas do Bandarra, e também nas quadras de Nostradamus. Esse futuro é sermos tudo."
Desde o tempo das descobertas, com o conhecimento de novos mundos, que colocaram Portugal como referência obrigatória, sempre houve uma crença de perenidade e de uma missão civilizadora. Daí Fernando Pessoa, como o fizera Vieira, procurar atestar a sua grandiosidade e o valor simbólico do seu papel na civilização ocidental, acreditando no mito do Quinto Império. Ao longo da Mensagem, sobretudo da terceira parte, Pessoa exprime a sua conceção messiânica da história e sente-se investido no cargo de anunciador do Quinto Império, que não precisa de ser material, mas civilizacional.
A referência ao Quinto Império surge na Bíblia e torna-se mito nas interpretações que sucederam ao longo dos tempos. Em Portugal, Bandarra (1500?-1556), Padre António Vieira (1608-1697) e Fernando Pessoa (1888-1935) reformulam o mito.
De acordo com a Bíblia, Nabucodonosor, rei da Babilónia (604-562 a.C.), queria que os sábios lhe revelassem o sonho que tivera e a sua interpretação. O sonho envolvia uma enorme estátua com cabeça de ouro, peito e braços de prata, ventre e ancas de bronze, pernas de ferro e pés de barro, à qual uma grande pedra, que se desprendeu da montanha, triturou os pés, fazendo tudo em pedaços. Foi o profeta Daniel que lho revelou e decifrou, mostrando-lhe que o nascimento e a queda de impérios acontecem pela vontade de Deus, embora pareça dos homens essa missão. Diz Daniel (2:37-44): "Tu que és o rei dos reis, a quem o Deus dos céus deu a realeza, o poder, a força e a glória; a quem entregou o domínio, onde quer que eles habitem, sobre os homens, os animais terrestres e as aves do céu, tu é que és a cabeça de ouro. Depois de ti surgirá um outro reino, menor que o teu; depois um terceiro reino, o de bronze, que dominará sobre toda a terra. Um quarto reino será forte como o ferro" e, mais à frente, "No tempo destes reis, o Deus dos céus fará aparecer um reino que jamais será destruído e cuja soberania nunca passará a outro povo". Daniel profetizou que depois da grandiosidade do império da Babilónia, sucederiam outros, que de acordo com as interpretações mais correntes são o Medo-Persa, o da Grécia e o de Roma, sendo o Quinto Império universal.
O Padre António Vieira, ao desenvolver o mito do Quinto Império, considera que, depois desses grandes impérios liderados por Nabucodonosor (da Babilónia ou dos Assírios), por Ciro (da Pérsia), por Péricles (da Grécia) e por César (de Roma), chegará o Império Universal Cristão, o Quinto Império, liderado pelo Rei de Portugal. Diz Vieira em História do Futuro: "Chamamos Império Quinto ao novo e futuro que mostrará o discurso desta nossa História; o qual se há de seguir ao Império Romano na mesma forma de sucessão em que o Romano se seguiu ao Grego, o Grego ao Persa e o Persa ao Assírio".
Fernando Pessoa, na obra Mensagem, anuncia um novo império civilizacional, que, como Vieira, acredita ser o português. O "intenso sofrimento patriótico" leva-o a antever um império que se encontra para além do material. No poema "O Quinto Império", afirma: "Grécia, Roma, Cristandade, / Europa – os quatro se vão / Para onde vai toda idade. / Quem vem viver a verdade / Que morreu D. Sebastião?"
Para o Poeta, "A esperança do Quinto Império, tal qual em Portugal a sonhamos e concebemos, não se ajusta, por natureza, ao que a tradição figura como o sentido da interpretação dada por Daniel ao sonho de Nabucodonosor. Nessa figuração tradicional, é este o seguimento dos Impérios: o Primeiro é o da Babilónia, o Segundo o Medo-Persa, o Terceiro o da Grécia e o Quarto o de Roma, ficando o Quinto, como sempre, duvidoso. Nesse esquema, porém, que é de impérios materiais, o último é plausivelmente entendido como sendo o Império de Inglaterra. Desse modo se interpreta naquele país; e creio que, nesse nível, se interpreta bem. Não é assim no esquema português. Esse, sendo espiritual, em vez de partir, como naquela tradição, do Império material de Babilónia, parte, antes, com a civilização que vivemos, do Império espiritual da Grécia, origem do que espiritualmente somos. E, sendo esse o Primeiro Império, o Segundo é o de Roma. O Terceiro o da Cristandade, e o Quarto o da Europa – isto é, da Europa laica de depois da Renascença. Aqui o Quinto Império terá de ser outro que o inglês, porque terá de ser de outra ordem. Nós o atribuímos a Portugal, para quem o esperamos." (Textos transcritos por António Quadros, em Fernando Pessoa, Iniciação Global à Obra)
A crença no Quinto Império persegue Fernando Pessoa, como se vê pela entrevista a Alves Martins (1897-1929) em Revista Portuguesa, nº 23-24, de 13 de outubro de 1923, onde à questão sobre o que calcula que seja o futuro da raça portuguesa, responde: "O Quinto Império. O futuro de Portugal – que não calculo, mas sei – está escrito já, para quem saiba lê-lo, nas trovas do Bandarra, e também nas quadras de Nostradamus. Esse futuro é sermos tudo."
Desde o tempo das descobertas, com o conhecimento de novos mundos, que colocaram Portugal como referência obrigatória, sempre houve uma crença de perenidade e de uma missão civilizadora. Daí Fernando Pessoa, como o fizera Vieira, procurar atestar a sua grandiosidade e o valor simbólico do seu papel na civilização ocidental, acreditando no mito do Quinto Império. Ao longo da Mensagem, sobretudo da terceira parte, Pessoa exprime a sua conceção messiânica da história e sente-se investido no cargo de anunciador do Quinto Império, que não precisa de ser material, mas civilizacional.
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