Meditação por Portugal

Ao Encontro da Alma Luzitana

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terça-feira, 16 de abril de 2013

UMA IDENTIDADE ABERTA E PLURAL

 «A identidade nacional, tal como existe hoje, resulta de um processo histórico que passou por diversas fases até atingir a expressão que atualmente conhecemos» - disse José Mattoso, por certo o mais lúcido analista da identidade portuguesa.

E a verdade é que a permanência do território europeu e das suas fronteiras, ao longo dos séculos, bem como a importância de uma língua antiga, com projeção intercontinental, falada por mais de duzentos milhões de falantes constituem duas características importantes que devemos lembrar.

Temos as fronteiras estáveis mais antigas da Europa, somos a terceira língua europeia mais falada no mundo e o idioma mais usado no hemisfério sul. No entanto, como tem sido salientado pelos estudiosos da questão portuguesa, a nossa identidade tem-se afirmado ao longo dos tempos, desde o século XII, a partir da sua capacidade de se enriquecer através do contacto com outras identidades e outras culturas.

A cultura portuguesa sempre se tornou mais rica, abrindo-se, dando e recebendo. Formámo-nos como um cadinho de diversas influências – a partir dos vários povos que foram chegando à finisterra peninsular e se misturaram. E essa qualidade de receber e de se relacionar permitiu, a partir do século XV, a gesta de ir à descoberta de outras terras e outras gentes.

Há, assim, um enigma bem presente, que é o de tentar saber por que motivo fomos mar adiante – a «dar novos mundos ao mundo». E se Eduardo Lourenço fala de uma superidentidade, di-lo como uma espécie de compensação, de quem vive dividido entre a recordação histórica de velhas glórias e a consciência presente de dificuldades e limitações.

Por isso, os nossos mitos tornam-se importantes, não para explicar, mas para cuidar da sua crítica para obter a respetiva superação.

Jaime Cortesão falou do «nosso» humanismo universalista de fundo franciscano, para significar que a dignidade humana está no centro da nossa «aventura».

S. Teotónio, companheiro de D. Afonso Henriques e alma dos cónegos regrantes de Santo Agostinho, de Santa Cruz de Coimbra, criou um centro erudito, animado pelo riquíssimo diálogo mediterrânico, renovador do pensamento europeu.

Santo António de Lisboa, discípulo de Santa Cruz e companheiro do Pobre de Assis contribuiu decisivamente para renovação teológica e cultural do franciscanismo na Europa e no mundo.

Gil Vicente, Sá de Miranda e Camões usaram o tempo e o espírito para pôr a tónica nesse universalismo de ideias e valores. E o Padre António Vieira tornou as «Trovas» de Bandarra uma chamada a um desejo vivo e não morto, transformando a lembrança funesta de Alcácer Quibir num apelo de renascimento e restauração.
http://observatorio-lp.sapo.pt/pt/editorial_3
Por Guilherme d’Oliveira Martins*
UMA IDENTIDADE ABERTA E PLURAL
 


Por Guilherme d’Oliveira Martins*
 
 
 
«A identidade nacional, tal como existe hoje, resulta de um processo histórico que passou por diversas fases até atingir a expressão que atualmente conhecemos» - disse José Mattoso, por certo o mais lúcido analista da identidade portuguesa.
 
E a verdade é que a permanência do território europeu e das suas fronteiras, ao longo dos séculos, bem como a importância de uma língua antiga, com projeção intercontinental, falada por mais de duzentos milhões de falantes constituem duas características importantes que devemos lembrar.
 
Temos as fronteiras estáveis mais antigas da Europa, somos a terceira língua europeia mais falada no mundo e o idioma mais usado no hemisfério sul. No entanto, como tem sido salientado pelos estudiosos da questão portuguesa, a nossa identidade tem-se afirmado ao longo dos tempos, desde o século XII, a partir da sua capacidade de se enriquecer através do contacto com outras identidades e outras culturas.
 
A cultura portuguesa sempre se tornou mais rica, abrindo-se, dando e recebendo. Formámo-nos como um cadinho de diversas influências – a partir dos vários povos que foram chegando à finisterra peninsular e se misturaram. E essa qualidade de receber e de se relacionar permitiu, a partir do século XV, a gesta de ir à descoberta de outras terras e outras gentes.
 
Há, assim, um enigma bem presente, que é o de tentar saber por que motivo fomos mar adiante – a «dar novos mundos ao mundo». E se Eduardo Lourenço fala de uma superidentidade, di-lo como uma espécie de compensação, de quem vive dividido entre a recordação histórica de velhas glórias e a consciência presente de dificuldades e limitações.
 
Por isso, os nossos mitos tornam-se importantes, não para explicar, mas para cuidar da sua crítica para obter a respetiva superação.
 
Jaime Cortesão falou do «nosso» humanismo universalista de fundo franciscano, para significar que a dignidade humana está no centro da nossa «aventura».
 
S. Teotónio, companheiro de D. Afonso Henriques e alma dos cónegos regrantes de Santo Agostinho, de Santa Cruz de Coimbra, criou um centro erudito, animado pelo riquíssimo diálogo mediterrânico, renovador do pensamento europeu.
 
Santo António de Lisboa, discípulo de Santa Cruz e companheiro do Pobre de Assis contribuiu decisivamente para renovação teológica e cultural do franciscanismo na Europa e no mundo.
 
Gil Vicente, Sá de Miranda e Camões usaram o tempo e o espírito para pôr a tónica nesse universalismo de ideias e valores. E o Padre António Vieira tornou as «Trovas» de Bandarra uma chamada a um desejo vivo e não morto, transformando a lembrança funesta de Alcácer Quibir num apelo de renascimento e restauração.
http://observatorio-lp.sapo.pt/pt/editorial_3

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