Um dos maiores enigmas de Sintra sempre foi o dos seus misteriosos “túneis” que se perdem no seio da Terra, a maioria dos visitáveis mais ou menos à flor do solo interrompidos subitamente na sua marcha para as funduras para alguma barreira granítica, o que deixa a cada um que visita ou descobre esses lugares subterrâneos um halo de incerteza inquietante e até mesmo a sensação feérica de que muito mais se esconde aos olhares empíricos da “ciência” daqueles que, acaso os mais perturbados ante o desconhecido absoluto, ainda assim aparentemente num exercício algo rebuscado ou forçado padronizam a entronização da lógica cartesiana como a solução de tudo… desconhecendo que Descartes também procurou nas funduras na Terra as soluções reais ao que até então tinha por empirismo da razão, ou melhor, “empirismo irracional”, ele que foi Rosacruciano assumido tendo, numa atitude filosófica a guisa de autocrítica à sua lógica mecanicista, rematado já no fim da vida: “Viver sem filosofar é o mesmo que se chama ter os olhos fechados sem nunca os ter tentado abrir”!
Tentaremos neste estudo, baseados em fontes documentais e monumentais, alicerçados igualmente na nossa vivência particular (algo que consideramos fundamental neste tipo de abordagens, por tratar-se do “elo perdido” que permite juntar as partes do todo que ainda “se desconhece”), chegar a uma conclusão, que sendo particular todavia não deixará de tentar ser a mais abrangente possível, cabendo a cada um julgar por si e estando receptivos a “novas descobertas”, pois acreditamos que enquanto houver Humanidade este será um dos temas mais discutidos, sobretudo no tocante a ver com a Serra de Sintra. Esperamos sinceramente que este estudo seja motivo para que outros como nós se lancem na investigação de tão aliciante tema, complementando ou não o que iremos expor seguidamente.
Iremos igualmente abordar, segundo a concepção da Ciência Tradicional das Idades alicerçados nos Ensinamentos da Comunidade Teúrgica Portuguesa que explica os grandes mistérios da Serra de Sintra e de outros lugares denominados Jinas, a presença de certos “fenómenos” que, com mais ou menos intensidade e brevidade, por certos alguns já assistiram pelo menos uma vez na vida. Na verdade, pensamos convictamente que a resposta ou solução ao enigma da finalidade última dos ”túneis” de Sintra passa claramente por esta abordagem que propomos, a qual tem tanto de metafísica como de científica, pois ambas se complementam, ou melhor, a última é completada pela primeira. Trata-se, no fundo, de unir a Mente ao Coração, perquirindo pelo Conhecimento e intuindo pela Sabedoria, esta a Luz Suprema de todo e qualquer Obreiro da Obra do Eterno na Face da Terra.
Chaminé do túnel sob o Café Paris, Sintra
Aprofundando então a temática dos “túneis” e incidindo primeiramente no “túnel” do Café Paris, temos que pelo mapa consultado no artigo do Jornal Época, datado de 23 de Agosto de 1972, da autoria do espeleólogo Alexandre Morgado, parece-nos óbvio que adentra as profundezas da Terra ramificando-se em três direcções não definidas no artigo, talvez por causa das várias obstruções que o autor encontrou no caminho. Avançamos com a hipótese, para nós parecendo-nos perfeitamente plausível, de um desses “túneis” ir desembocar no Palácio Real da Vila de Sintra, mais concretamente na sua Capela do Espírito Santo, segundo a opinião de João Rodil e de Vitor Manuel Adrião que chegou a fazer esse trajecto subterrâneo. As outras ramificações, claro, não suscitam tantas certezas, mas é perfeitamente legítimo supor que uma delas, segundo Alexandre Morgado e o mesmo Vitor M. Adrião, provenha de um dos muitos “túneis” existentes no alto no Morro dos Penedos da Serra, no Castelo dos Mouros, mais precisamente da tulha que pode observar-se perto da Torre da Menagem e da qual fala-se muito que poderá desembocar em Rio de Mouro. Tal assertiva parece-nos lógica, pois neste cruzamento de ramais do “túnel “do Café Paris é perfeitamente concebível que o último ramal de que falta falar seja o que irá desembocar precisamente na área de Rio de Mouro, ou mais precisamente, na Gruta de Colaride, local onde claramente se apercebe haverem galerias bastante longas, algumas com mais de 20 metros de extensão já percorridas mas nunca se tendo descoberto o seu fim, e à qual a tradição local sempre chamou de Gruta dos Mouros, Fojo dos Mouros e Algar dos Mouros. Estas denominações ancestrais são deveras significativas, vindo dar razão à tal lenda da fuga subterrânea dos mouros do seu castelo de Sintra até desembocarem por esta gruta, onde também desemboca a Ribeira de Jardas que deu o seu nome à povoação limítrofe de Rio de Mouro. Pensa-se que estes “túneis” tenham sido construídos pelos cavaleiros templários por os antigos espaços do Café Paris e do Hotel Central, ponto central de onde partem os ditos “túneis”, terem sido propriedades da Ordem do Templo, embora haja quem defenda que possam ser somente uma adaptação de algo que já existia…
Mapa das ramificações do túnel sob o Café Paris, Sintra
Noutro artigo da autoria do mesmo Alexandre Morgado no jornal citado anteriormente, desta vez datado de 26 de Abril de 1972, o espeleólogo em questão tratou de investigar a tal tulha no Castelo dos Mouros, podendo ler-se e citando:
“Nós estivemos lá e localizámos um sistema de corredores escavados com uma largura (0,96/0,97 metros) e uma altura (1,70 metros) regulares. Interrompida uma das galerias – considerada até à data a principal –, por abatimento do tecto visível do exterior, tem no entanto continuação, após a sala entulhada, por meio de um outro corredor “para lá de uma porta de madeira”.”
Tais “corredores” investigados pelo espeleólogo Alexandre Morgado, são motivo suficiente para justificar a existência de uma rede de “ túneis” no Castelo dos Mouros, sabendo-se e falando-se igualmente da presença de uma gruta, das mais belas da Serra de Sintra, precisamente por baixo deste já si misterioso castelo, sobre a qual contam-se muitas lendas, desde estar nela o tesouro encantado de um rei mouro que aí jaze guardado por ferozes “demónios” ou djins, em árabe, até a de ser uma das entradas principais na Europa para o fabuloso Reino de Agharta. Vitor Manuel Adrião vai mais longe e é bastante concreto na definição dessa gruta, pelo que o citamos:
“Agora, sim, algo inédito tenho a dizer sobre “o túmulo do Rei Mouro”, guardiado por dedicados Jinas ou Djins, em árabe, no esconso subterrâneo do Castelo dos Mouros, como Rábita (isto é, “Templo-Fortaleza”) MARIDJ. Para isso, recorro a um Livro Secreto pertencente ao acervo interno da COMUNIDADE TEÚRGICA PORTUGUESA, trazendo de título Conversas Makáricas, e que diz na página 44:
“De Sintra projectou-se a edificação da Obra Espiritual de S. Lourenço. Tal como através de Sintra – Portugal peregrinam já as Mónadas Eleitas para S. Lourenço – Brasil, umas ficando no Celeiro de TASSÚ e outras saindo do Celeiro de TASSÚ (S. Tomé das Letras), de acordo com a necessidade do Novo Ciclo que ora urge sob o patronímico IBERO-AMERÍNDIO. Por isso, no Templo de MITRA-SHERIM (o de S. Lourenço), à boca de ZOARACI, há um túnel físico-akáshico inicialmente construído por EL RIKE e depois revigorado por JEFFERSUS, pelo qual discorrem as Energias Crísticas ou Búdhicas vinculando-o aqui, ao Templo de AK-SHERIM (o de Sintra), à boca de LZN por onde se chega pela SURA-LOKA, cuja entrada principal incrusta-se na parede de uma das muralhas no interior do Castelo dos Mouros, descendo-se logo em seguida 44 degraus até um anfiteatro de espaço razoável onde há um pequeno lago (com cerca de 5 metros de largura por 6,5 metros de comprimento), cujas águas afloram à superfície concentrando-se num reservatório ligado à lenda jina “do túmulo do rei sábio e dos demónios subterrâneos que lhe montam guarda”. Esta lenda ainda vigora na memória da população local. Dizia, os caboucos internos do castelo assentam aí, e é a partir daí, região já interdita, que começa realmente a viagem levando à Catedral Universal do Mundo de Badagas.
Nilgiria – Raparigas Badagas (1909)
“Nesse anteposto há um altar quadrangular saído da pedra maciça com alguns caracteres e gravuras lapidados no granito, falando em arábigo da REALIZAÇÃO DE DEUS (Allah Al-Berith), dizendo-se ter sido construído por Soleiman Al-Shari, filho do Vali de Xentra, no século IX. Diante do altar, num intervalo de cerca de 3 metros, há um sepulcro, o do Sábio Soleiman, sem outro adorno senão uma meia-lua sobreposta por uma flor-de-lis gravada na tampa trifacetada. Assenta sobre quatro colunelos nus.”
Também Manuel Joaquim Gandra refere a existência de um “funil” no interior da cisterna do Castelo dos Mouros, mas que segundo Vitor Manuel Adrião leva a um lençol de água subterrâneo indo desaguar, a cerca de 3 quilómetros de profundidade, numa gruta relativamente ampla geralmente inundada com água até ao tecto.
Tulha do Castelo dos Mouros
O certo é que podemos verificar a existência de várias reentrâncias envolventes de todo o castelo, além de minas de água e “túneis” sobre os quais desconhece-se a sua finalidade última. Fontes por nós consultadas garantiram-nos que uma das entradas para essa gruta fabulosa dá-se por uma porta de ferro, de momento fechada ao público, perto da antiga casa do guarda do Castelo dos Mouros. Não podemos aquilatar da veracidade dessa informação, por não conseguirmos ter acesso para além de tal porta, esperando que um dia tal seja possível.
Dissecando um pouco mais o tema dos “túneis” de Sintra, algo temos a dizer a guisa de esclarecimento à luz da lógica racional imediata. Por exemplo, a maioria de tais “túneis” é identificada como simples “minas de água”, algo para nós simplesmente inconcebível, posto que muitas dessas “minas” não têm uma só gota de água nem alguma vez a tiveram, além de possuírem designações ou nomes antigos míticos e místicos nada consentâneos com o vulgar de “minas de água” (por exemplo, “Gruta do Fada”, “Gruta da Serpente”, “Gruta do Monge”, “Gruta da Princesa”, etc., etc.). A observação da presença, em alguns desses ”túneis”, de certas particularidades como orifícios ou nichos escavados nas paredes laterais, reparando-se claramente terem sido utilizados para suster algum tipo de iluminação, certamente velas ou círios (quiçá consagrados a algum mistério ritualístico no Passado…), afastam por completo a hipótese de destinarem-se exclusivamente à simples função de “minas de água”. Na verdade, o seu traçado e disposição interiores revelam uma intencionalidade muito mística, nada empírica nem onírica, e menos ainda de finalidade prática exclusivamente profana, por certo transmitindo o sentido sagrado e iniciático de se estar ante antigas “embocaduras” ou “portais” de acesso a uma outra realidade ocultada mas existente no espaço desta Serra de há muito consignada Sagrada e que foram construídas pelos seus povoadores primitivos, os mesmos que Mário Roso de Luna denominou Povos Jinas, as quais posteriormente teriam sido aproveitadas pelos mouros ou morabitinos e os cavaleiros templários, outros ascetas e místicos da “Serra da Lua”, incluindo os monges jerónimos, sem esquecer o “Rei Iluminado” D. Fernando II de Saxe Coburgo-Gotha, os quais, por certo Iniciados nos Grandes Mistérios do “Santo dos Santos” da Mãe-Terra, através da criação dos TÚNEIS da “LUZ DE CHAITÂNIA” adentrariam esses “ portais” tendo acesso aos “tesouros” inalcançáveis nas profundezas desta Serra Sagrada, ou, talvez, nas profundezas deles mesmos… qual VITRIOL alquímico, cuja obtenção no seio da Terra implica a conquista simultânea no seio do Homem. Mais adiante, abordaremos com maior detalhe este assunto.
Serra de Sintra – Túnel em Y onde se observa a forma fluídica de presença Jina no mesmo
Muitos desses “túneis” ou “embocaduras” podemo-los encontrar no encantandoramente misterioso Parque da Pena, onde “muito de belo se olha mas pouco se vê”. Nele destacamos dois lugares, com desculpa para os outros mas que o Parque é vastíssimo Parque da Pena, ele que com o seu Palácio da Pena têm muito para contar não só à inteligência divagando mas sobretudo à Intuição acertando, sim, porque como dizia o Professor Henrique José de Souza, “a Intuição é mais atrevida que a inteligência”. Um desses locais é o que alguns denominam “Gruta da Fada”, nome divulgado no artigo editado pelo Jornal Cyntra, n.º 6, de 1912:
“Gruta formada por uma imensa rocha de granito, apoiada em dois rochedos que a flanqueiam. Diz a lenda que uma fada todas as noites, cerca da meia-noite, ali vai carpir o seu destino. A referida gruta fica na entrada da Pena, à esquerda de quem sobe, quase ao chegar ao portão principal do Parque da Pena.”
Pois sim, e apesar da localização exacta diferir daquela citada nesse artigo, na realidade é mesmo uma “Gruta da Fada” por norma encantando a todos que a visitam. Em tempos imemoriais talvez ou por certo este tenha sido lugar sagrado, cuja finalidade escapa completamente à impuberdade sensorial, físico-psíquica dos que hoje vagueiam pela serra errando sem norte nem destino certo, chegando até a “confundir pirilampo com anjos”… só por serem luminosos. Próximo da “Gruta do Monge”, trata-se de um “túnel” que interiormente se bifurca, formando um Y, precisamente o símbolo da Missão dos Sete Raios de Luz em que a Comunidade Teúrgica Portuguesa está empenhada… o que não deixa de ser deveras significativo. Pois bem, esse “túnel” logo à sua entrada, no lado esquerdo, permite vislumbrar resquícios esculpidos daquilo que, observando mais atentamente, parece ser uma chave. Aqui, uma vez mais, adentramos no plano do mistério, do segredo, do secreto… Chave?! De que porta? Para abrir qual porta ou entrada interior que… aparentemente não existe?… Mais à frente, observamos os tais orifícios ou nichos referidos anteriormente, que pelos sinais visíveis de fuligem na parede provam sem margem para dúvidas que destinavam-se a iluminar o espaço através de velas ou círios, quiçá consagrados a um fim deífico hoje desconhecido. Numa das bifurcações, mais precisamente a do lado direito, quando chegamos ao fim dela deparamo-nos com aquilo que parece ser um pequeno altar, balcão sobressaindo do granito da caverna. Mais uma vez, perante o insólito do conjunto, as interrogações são inevitáveis: para quê um “túnel” com uma chave e nichos para velas terminando num pequeno altar? Com que intenção ou finalidade foi feito tudo isso? Muito teríamos a dizer sobre a chave e o altar, mas preferimos deixar que cada um o faça por si, votando que descubram a chave do portal que conduz ao altar do seu Templo Interior, dessarte encontrando as respostas para a resolução deste e doutros enigmas da Serra de Sintra.
Ainda assim, convém registar o significativo de em 21.11.1990 a Comunidade Teúrgica Portuguesa/Ordem do Santo Graal postou nessa “Gruta da Fada” um Y de madeira de nogueira e uma taça de madeira de carvalho, entretanto desaparecidas surrupiadas por algum “amigo do alheio”.
Outro local no Parque da Pena deveras enigmático é aquele composto de um conjunto de várias reentrâncias na rocha, perfazendo sete no total (número curioso…), que claramente têm o formato de portas ou de entradas para dentro da Serra. O espaço em questão está inteiramente ocultado da visão dos turistas profanos que diariamente visitam o Parque, passando próximo dele mas sem darem conta da sua presença. Dessas sete reentrâncias, duas são perfeitamente visíveis assim que se chega ao local, enquanto as outras não se vislumbram à primeira vista, dando a sensação de estarem escondidas aos primeiros olhares, sendo necessário “ver melhor”. É preciso aproximarmo-nos mais, e então deparamo-nos com uma gruta ocultada por uma penha que aesconde parcialmente, visão cujo conjunto provoca a imagem e ideia da “Ressurreição de Lázaro”, pois parece que ali alguém esteve em repouso, morto para a Matéria, nascido para o Espírito, tendo depois aberto a “porta”, pedra ou lápide e “saído” para este mundo profano. Dentro desta gruta mais uma vez o insólito acontece: nela deparamo-nos com as restantes 5 reentrâncias ou “portas”, aliás, configuradas num esquema geométrico muito curioso que perfaz um pentagrama, o símbolo dos 5 Elementos da Natureza, igualmente do Homem Integral em perfeito equilíbrio com a Matéria e o Espírito, sendo assim mais um exemplo deveras significativo da mística local e, por arrasto, de toda a Serra de Sintra. A Tradição Iniciática da Teurgia denomina este lugar de Embocadura das Sete Portas.
Duas das (sete) “portas”
Podemos, então, legitimamente cogitar que muito mais está “ocultado” nestes locais do que só serem meras casualidades geológicas ou simples “minas de água”, carecendo-se da necessidade de analisar estes casos que remetem para realidades completamente alheias ao chamado empirismo dialéctico, portanto, devendo ser encarados “não através da letra que mata, mas do espírito que vivifica”, pois, para a Tradição Iniciática das Idades a cuja celebração parecem todos estes lugares sido feitos, não há casualidades e sim causalidades, suscitadas por um propósito maior que sempre escapou ao entendimento profano nas a que não foram indiferentes, repetimos, D. Fernando II, os frades jerónimos, os templários e os mouros desta Serra, aos quais é atribuída a construção de muitos dos seus “túneis” boa parte dos quais, em verdade, mais se assemelham a hipógeos ou lugares subterrâneos destinados ao culto dos Mistérios da Verdadeira Iniciação. Consideramos, também, que apesar de muita gente outorgar a autoria desses “túneis” às personagens citadas acima (restando saber por que razão o teriam feito…), ainda assim poderemos recuar muito mais no tempo, posto que inúmeros desses “túneis” possuem antiguidade que se perde na Noite dos Tempos da História da Humanidade (como os de Vale de Cavalos e Porto Côvo na encosta Sul da Serra, por exemplo). Muito provavelmente será necessário associarmos a isso muitas lendas ancestrais que correm e sempre foram contadas na Serra de Sintra, sobre as quais os anciães de antigamente deteriam o conhecimento efectivo da sua origem verdadeira antes de se transformarem em lendas, portanto, para eles como sendo algo bem real era bem e não simples quimera lúdica, como o homem moderno e dessacralizado, supostamente avançado cientificamente, hoje trata estes temas, desprovido do SER em troca do ter para, afinal, revelar não ter nada e tudo perdendo, sobretudo a noção de mortalidade do que foi e é, e a mais que possível de imortalidade do que será neste grande palco da Evolução Universal.
Uma característica comum a estes “túneis” é o de aparentemente não levarem a lugar algum, pois terminam abruptamente contra o granito ou o arenito do seio da Terra, como se alguém que não tivesse mais nada para fazer os tivesse escavado por simples passatempo, ou então para retirar saibro de paredes graníticas!!! Obviamente que tal não tem coerência e tampouco fundamento. Tais “túneis”, do nosso ponto de vista, relacionar-se-ão com algo muito mais profundo e nos parecem em franca correspondência com o V.I.T.R.IO.L. alquímico (Visita Interiora Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem, “Visita o Interior da Terra e rectificando encontrarás a Pedra Oculta”), o qual não é algo exclusivo ao interior consciencial do Ser Humano mas também, pela Lei da Analogia e Correspondência, ao seio, ao interior da Mãe-Terra. Citando Hermes Trimegisto, na sua Tábua da Esmeralda, de que “O que está em cima é como o que está em baixo, e o que está em baixo é como o que está em cima”, podemos estabelecer a analogia para o caso em estudo, referindo que quanto está no “Nosso Interior” é como o que está no” Interior da Terra”, e o que está no “Interior da Terra” é como o que está no “Nosso Interior”. Quem tiver olhos para “ver”, ouvidos para “ouvir” e principalmente coração para “sentir”, por certo saberá decifrar o que acabamos de dizer.
Em consonância com o último parágrafo, passaremos em seguida a explicar o motivo de muitos fenómenos na Serra de Sintra, à luz da Tradição Iniciática das Idades de quem foi o último Revelador o Professor Henrique José de Souza, e também o aparente absurdo das galerias dos tais “túneis” ou “embocaduras” interromperem-se abruptamente sem razão aparente.
Nos Planos Mental Concreto e Astral extensivo ao Etérico, existem expressões energéticas artificiais denominadas “formas de pensamento e desejo” (mayas-rupas ou kamamanas-rupas) que são criações e desenvolvimentos dos pensamentos e desejos da própria Humanidade, o que prova a afirmação dos Mestres de Sabedoria de que “a energia segue o pensamento que lhe dá forma”. Tais mayas-rupas são de natureza enganosa aos aspirantes no Caminho da Verdadeira Iniciação, e por vezes até aos discípulos mais adiantados, quando as tomam pela verdadeira realidade desses Mundos quando, em verdade, apenas os espelham…e muito imprecisamente.
Na realidade, tais “formas de pensamento e desejo” não passam de chayas ou “sombras” que nem “portais” são para o Real ou a realidade desses Planos subtis. Cabe ao verdadeiro e sincero discípulo da Obra do Eterno na Face da Terra a prevenção de sempre manter “os olhos e ouvidos alerta”, ou seja, “a vigilância dos sentidos” quanto a acautelar-se ante as “grandes revelações e verdades” psicomentais hoje em dia correndo profusamente em certas instituições de aparência espiritualista, onde a inocência ingénua campeia por ausência notória de INICIAÇÃO VERDADEIRA, cuja base é sempre MENTAL SUPERIOR e nunca, jamais, emocional. Ademais, tais “revelações e verdades” quando não são mero plágio, podem não passar de simples Espelhismo reflectido pela natureza humana de um dos 4 Planos da Personalidade (Mental Concreto, Emocional, Vital e Físico) com o qual se identifique mais, ou, o que não é raro, com todos eles simultaneamente.
O Espelhismo (ou Glamour, em inglês) é o reflexo das matérias subtis dos Planos da Personalidade do Logos Planetário e do Homem nos sentidos não-apurados deste último, que assim toma o Ilusório por Real, cuja forma lhe é dada pelas mayas-rupas (formas-pensamento) aí existentes. Ao Espelhismo a Tradição Iniciática das Idades chama Maya Budista ou Maya-Vada.
Os Mestres de Sabedoria usam da Maya-Vada para afastar os incautos despreparados, bisbilhoteiros e curiosos para todo o efeito profanos, dos seus meio-ambientes na Terra, ou para iludir sobre um acto que não querem que vejam, ou então ainda fazendo-os ver aquilo que na realidade não existe. A Maya-Vada é também o método com que são postos à prova aqueles que percorrem o árduo, estreito mas seguro Caminho da Verdadeira Iniciação, procurando com sinceridade de pensamentos e desejos o contacto, a comunhão com os Mestres Reais. Se inicialmente o discípulo cai em muitos erros e falsidades, deixando o seu Mestre – à distância – que isso aconteça, é para que aprenda a futuramente não mais cair no erro e na mentira… Ademais, ninguém evolui por alguém, os esforços têm que partir do próprio para que verdadeiramente tenham mérito e valor.
Templo Badagas (Nilgiria, 1925)
Nas regiões Jinas da Terra, como é a de Sintra, os seus habitantes Jinas, Badagas ou Sedotes do Submundo, muito mais evoluídos científica e espiritualmente que a comum Humanidade, unem-se por laços inquebráveis numa verdadeira Fraternidade Espiritual ou Iniciática à escala planetária, e, não é demais repetir, não raro usam da Maya-Vada para afastar os curiosos e profanos das proximidades das suas Embocaduras, ou para pôr à prova a perseverança e tenacidade do candidato à Suprema Iniciação em algum dos Santuários dos Mestres Reais adentro no Mundo Interior. Então, provocam fenómenos do mais puro ilusionismo que parecem mesmo reais, inclusive podendo materializa-los como tais, como, por exemplo, abismos abrindo-se inesperadamente diante dos viajantes desprevenidos, aparições súbitas de cidades maravilhosas, castelos onde antes não estavam, tempestades de chuva ou de granizo em dias de sol, declínios repentinos ou subidas súbitas de temperatura, fenómenos auditivos e visuais, etc., etc. Apesar de serem fenómenos de espelhismo, ilusórios, nem por isso deixam de ser bem reais para quem os experimenta… mesmo não passando do MUNDO DA GRANDE MAYA que é o ASTRAL.
O mecanismo operado pelos Adeptos Perfeitos, os Seres incomensuravelmente mais evoluídos humana e espiritualmente, para produzir a Maya-Vada não é muito complicado, uma vez que conheçamos as noções básicas da Anatomia. As imagens visuais são captadas pelos nossos olhos, vão-se estampar na nossa retina. Até aí trata-se de um verdadeiro fenómeno óptico. A partir daí, os impulsos ópticos são transformados em impulsos nervosos, os quais circulam pelo sistema nervoso dirigindo-se a um ponto determinado do cérebro, que os identificará e guardará como memória. Nesse pequeno e rapidíssimo trajecto percorrido pelos impulsos nervosos, é possível modificar a sua qualidade e natureza original, dando a impressão de se vendo o que realmente não existe fisicamente, ou então o contrário, bloquear os impulsos nervosos alterando-os, não deixando ver o que acontece fisicamente. Como podem verificar-se e provar-se tais alterações dos impulsos nervosos? Pois bem, quem já presenciou rituais animistas de inspiração dita “xamânica” ou “umbandista” deve ter ouvido o rufar de pequenos tambores ou atabaques. Tais tambores ao serem tocados produzem uma onda sonora, acompanhada de outra onda de natureza nervosa muito semelhante às das ondas nevro-cerebrais. Isso explica porque os participantes desses rituais com o aumento da intensidade das batidas nos atabaques entram em transe, que é uma catalepsia psicofísica propícia à manifestação do subconsciente da pessoa em empatia com formas de vida psíquica sub-humanas. Todas as suas ondas cerebrais são modificadas, ou antes, alteradas, e a pessoa penetra num “outro mundo”. Trata-se de impressões puramente psicofísicas, as quais acabam, por indução, dominando a consciência imediata de todos os participantes, deixando-os definitivamente afectados. Dizemos isto para que se tenha conhecimento exacto de que as ondas nevro-cerebrais podem ser modificadas, seja por auto-indução psíquica, seja ainda por um processo oculto que somente uma pessoa dotada de poderosa vontade pode operar, alterando os impulsos óptico-nevro-cerebrais de qualquer outra pessoa mais fraca que ela. Outra modalidade propícia a provocar alguma alteração nevro-cerebral pode ser suscitada por algum mantram, quase inaudível ou não, como o fazem os Adeptos, e então o indivíduo afligido terá a impressão de estar vendo algo que, realmente, nunca impressionou a sua retina. Ele poderá até jurar que viu uma coisa que, afinal, não existe. Uma vibração quase inaudível, junta com uma vibração mental produzida por um Adepto, poderá provocar a chamada Maya-Vada, quer para que se veja o que não existe, quer para que não se veja o que existe.
Normalmente, as Embocaduras que servem de entrada para esse outro Mundo Oculto de Sintra e de outros Lugares Jinas na Face da Terra, estão protegidas por Seres tradicionalmente denominados Munis e Todes, estes que são uma espécie de “alter-ego” dos Badagas, tais como os Munis são uma espécie de “alter-ego” dos Munindras, os discípulos da Obra do Eterno na Face da Terra. A Tradição Iniciática revela que os Munis são Seres de natureza venusiana (mais amorosos e sábios), enquanto os Todes são-no de natureza marciana (mais guerreiros e políticos). São estes “subentendidos” da Obra do Eterno na Face da Terra que a protegem, e ao mesmo tempo forçam o discípulo verdadeiro a aprender a dissipar quantas Mayas-Vadas hajam. Os portais geográficos e doutrinais estão abertos, sim, mas resta saber dar com eles por detrás de quaisquer miragens (sejam árvores, pedras, animais, pessoas e até “grandes revelações”, não raro sendo coisa diferente do que aparentam) que os Adeptos colocam à prova dos sentidos do discípulo, no momento em que os impulsos ópticos são transformados em impulsos nervosos, modificando a sua qualidade e levando a pessoa a ver o que realmente não existe fisicamente, e mesmo que tenha a sensação de tocar no que aparentemente vê, ainda assim não existe, mesmo ficando com a impressão física de ter tocado algo visível e tangível, tal o poder de quem provocou a alteração sensorial dos impulsos nervosos. Chama-se a isso Maya-Vada vertiva. Invertendo o processo, anulando as ondas óptico-nervosas emitidas pelo cérebro da pessoa, através da obstrução por outras psico-nervosas externas a ela, os Adeptos podem fazer com que não se veja o que realmente está acontecendo. Chama-se a isso Maya-Vada invertiva. Só ao discípulo escolhido pelos Mestres, já bastante adiantado no Caminho da Verdadeira Iniciação, é permitido ver realmente a realidade como ela é. Com tudo, o mundo e as técnicas dos Adeptos Independentes são ainda um grande mistério e um maior absurdo para nós.
Muni (Nilgiria, 1870)
Falando agora um pouco mais sobre os Todes e os Munis, respectivamente chefiados por SAMAEL-LILITH e RABI-MUNI-TARA-MUNI, a verem com os “Anjos Rebeldes” de LUZBEL e os “Anjos Obedientes” (à LEI) de AKBEL, processo iniciado com o fim abrupto da chamada CADEIA LUNAR anterior à actual Terrestre, podemos referir o seguinte: os Todes manifestam-se de duas maneiras: ou veiculando a aura psico-etérica de um qualquer sujeito a eles, e usando as maneiras mais extravagantes e chocantes possíveis próprias à sua natureza serpentária, kundalínica ou”luciferina”, ou manifestando-se em forma física mas bioplástica, servindo-se do éter-ambiente local, aqui o da Serra de Sintra, para se materializarem. Quando se manifestam podem tomar formas tanto humanas como semi-humanas, e nisto acaso residirá o mito do misterioso Yeti, o “abominável homem das neves” dos Himalaias. Os Munis usam os mesmos processos, mas são muito mais recatados e “educados”, isto segundo os nossos padrões comuns de viver em sociedade, e também na sua manifestação apresentam linhas e formas bem mais harmoniosas e delineadas, normalmente de característica dévicas ou, muito incorrectamente para definir formas etéreas esbeltas, “élficas”. Estes são organismos Duates, mais evoluídos espiritualmente e de natureza etérico-astral; aqueles são organismos Badagas, menos evoluídos espiritualmente e de formação físico-etérica. Os Todes protegem os Munis e são dirigidos por estes. Estes Seres montam guarda às Embocaduras servindo-se dos Marutas, as forças elementais que plasmam o ambiente natural, os bem conhecidos Silfos, Salamandras, Ondinas, Gnomos, etc. Tanto os Todes como os Munis arredam os curiosos e profanos dos espaços onde não os querem, e assim como o Tode acompanha o desenvolvimento da Personalidade o Muni participa na evolução da Individualidade do Munindra, do Discípulo verdadeiro em seu percurso iniciático à descoberta de SI exteriorizado no MUNDO INTERNO aqui de SINTRA ou de outros lugares de natureza idêntica.
O que acabou de ser escrito, implica que para o verdadeiro encontro com o Mundo Oculto ou Espiritual de Sintra (como de todos os demais Lugares Jinas do Mundo) é forçoso o elementar da Consciência estar antes de tudo o mais devidamente harmonizada com o mesmo e equilibrada em si mesma, assim dispondo-se no mesmo diapasão das portentosas energias vibradas do seio do Retiro Privado dos Mestres Espirituais de Sintra, em uníssona com o Sol Espiritual da mesma que é o seu Chakra expressivo da MENTE DE DEUS. Só assim, pela lógica da razão iniciática, é que se entenderá a razão de ser de tantos “túneis” aparentemente sem continuidade espelhados pela serra, uma espécie de “tubos” destinados a conter as energias emitidas desde o seio da Terra.
Na verdade, qualquer um com a vibração dessa Consciência afim à Obra do Eterno na Terra aperceberá facilmente, por experiência própria, que o aparentemente “fechado” fisicamente (na tridimensão dimensão profana) está realmente “aberto” na quadridimensão hiperfísica (pelo que não deixa de ser uma experiência física, mas tão-só num estado mais elevado ou subtilizado da matéria)! Realmente, todo esse processo de harmonia e simbiose do Homem ao Logos é conhecido desde tempos imemoriais pelos raros mas distintos Grandes Iluminados que pisaram Sintra, que mergulharam no seio da Serra, e tem na Escola Teúrgica o nome Luz de Chaitânia.
Gruta no Parque da Pena de Sintra com cruz à entrada, marcando a presença da Luz de Chaitânia
A Luz de Chaitânia é o “canal” ou “tubo” interno pelo qual todo o Munindra estabelece a ligação da sua Personalidade Humana à Tríade Espiritual (representada pelas Quinta, Sexta e Sétima Cidades Aghartinas expressando à Consciência Mental Superior, Intuicional e Espiritual de que se compõe a Mónada Humana, Partícula do Grande Homem Cósmico que é o próprio Logos Planetário), representando isso o aprimoramento individual pela cada vez maior cultura espiritual e carácter moral, unindo a mente ao coração, sendo a única via certa e segura para gradualmente penetrar, “cavar mais fundo” os seus Mundos Internos Superiores ao mesmo tempo que os da Terra. Só assim poder-se-á realmente um dia adentrar verdadeiramente dentro de nós mesmos conhecendo o nosso verdadeiro Homem, facto assinalado no V.I.T.R.I.O.L. dos verdadeiros Alquimistas, e por consequência penetrar nos Mundos Internos do Planeta Terra, particularmente nos de Sintra, e contemplar o Eterno face a Face, dissipando assim e de vez para sempre todas as Mayas-Vadas, não só as provocadas pelos Adeptos ou Mestres de Sabedoria como método particular da Iniciação, mas sobretudo as nossas como aprendizagem mundana da vivenciação…
Para terminar, evocando o Ritual de Karuna, Rajah-Karman ou simplesmente Karma, deixamos um pensamento dos Vedas (Brihadaranyaaka Upanishad do Sloka Yajur-Veda, 1,3,28) para meditação, que ilustra perfeitamente tudo quanto acabámos de dizer:
Do irreal conduz-me ao Real.
Das trevas conduz-me à Luz.
Da morte conduz-me à Imortalidade.
Bibliografia
Monografias da Comunidade Teúrgica Portuguesa.
Conversas Makáricas, volume I. Edição reservada da Comunidade Teúrgica Portuguesa, 2001.
Conversas Makáricas, volume II. Edição reservada da Comunidade Teúrgica Portuguesa, 2005.
Mundo Subterrâneo de Al-Shantara (Sintra Mourisca), por Vitor Manuel Adrião, 2010.
No castelo dos mouros, em Sintra existe um subterrâneo, lendário ou não como na maioria dos castelos, por Alexandre Morgado. Jornal Época, 26/4/1972.
Subterrâneo na vila de Sintra parece ligar conhecida adega ao encantador Palácio Nacional, por Alexandre Morgado. Jornal Época, 23/8/1972.
Créditos fotográficos: Paulo Andrade e Arquivo da Comunidade Teúrgica Portuguesa.
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