MAMOA DE ALCALAR
No lugar de Alcalar, freguesia da Mexilhoeira Grande, Portimão, encontra-se o complexo megalítico de Alcalar, constituído por cerca de 12 antas de corredor com vestígios de mamoa. Entre estas, realçamos aquela que consideramos ser uma das mais importantes mamoas peninsulares, que, felizmente, está a ser preservada pelas entidades responsáveis pelo património arqueológico nacional. Não entrando aqui em considerações quanto à estrutura e finalidade desse importante conjunto megalítico de Alcalar, uma vez que as interpretações oficiais padecem, no geral, dos preconceitos positivistas do séc. XIX, entendendo a história de uma forma linear e redutora do ponto de vista simbólico-transcendental, iremos directamente tratar da mamoa em questão.
A mamoa – ou tumulus – é uma anta coberta de terra, confundindo-se na paisagem com uma colina; toma esse nome porque assemelha-se a um seio de mulher. E é precisamente nesse seio que se empreende o mistério da geração. Daí que, do ponto de vista mágico-simbólico, entrar numa mamoa equivale ao regressus ad uterum, um regresso ao útero da Terra-Mãe para voltar a nascer. O re-nascido, ou seja, aquele que nasceu de novo é, aquando das cerimónias efectuadas nas mamoas iniciáticas, um homem renovado, espiritualmente consciente, porque se iniciou nos mistérios da morte e renasceu para a vida.
A mamoa de Alcalar tem todas as característica de ser um monumento iniciático, visto tratar-se de uma anta de corredor, com pequeno átrio e, no lado oposto, a câmara iniciática. A sua orientação é Nascente-Poente, encontrando-se a câmara a Oeste e a entrada a Leste. O indivíduo era deitado com a cabeça voltada para poente e os pés virados para nascente. Significando o poente a morte e o nascente a vida, o candidato, ao entrar na mamoa, símbolo do útero da Mãe-Terra, dirigia-se para o país dos mortos e, superadas as provas da iniciação, renascia voltado para o Sol nascente.
in Eduardo Amarante, "Portugal e os seus Lugares Mágicos"
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