O Quinto Império e a Questão do Retorno de D. Sebastião
Sabemos que a idéia do Quinto Império tem origem portuguesa. Primeiro se manifestou através do sapateiro e poeta Bandarra, de origem judaica, que em suas trovas diz que o calvário o confiou a Portugal; depois a sua lusitanidade ganhou formas e contornos claros em Padre Vieira, tendo sido exponencialmente clarificado todas as suas potencialidades em Fernando Pessoa. Basicamente a idéia jorrou em Bandarra a partir da leitura do livro de Daniel e chegou a tal, o Quinto Império, a partir da interpretação que Daniel deu ao sonho do rei Nabucodonozor sobre a grande estátua, e uma vez que Daniel interpretou as diferentes partes da estátua como uma sequência de quatro impérios mundiais, ao final dos quais então iria se manifestar um império diferente, negação absoluta de todos eles, esmiuçando-os na representação da estátua e tirando deles o domínio, Padre Vieira e Fernando Pessoa, movidos por sentimentos messiânicos e nacionalistas, não tiveram dúvida em associar o Quinto Império a Portugal e anunciar o porvir de glória que aguardava a pátria lusitana.
Mas este Quinto Império em essência e origem é distinto em Padre Vieira e em Fernando Pessoa. A concordância dos dois se acha apenas no mito do sebastianismo, mesmo assim D. Sebastião portando uma messianidade espiritualizada em Fernando Pessoa que não se observa tanto assim em Padre Viera. Dom Sebastião em Padre Vieira está mais para Moisés, que voltou para restaurar a liberdade de um povo, ao passo que em Fernando Pessoa mais para Jesus, que voltará para resgatar a liberdade da humanidade, estabelecendo a quintessência do ser, todavia na sua íntima ligação com Portugal.
Como padre Vieira desenvolveu toda a sua idéia de Quinto Império? Colocou na sua base, começo e meio o fundamento material. Partiu de impérios materiais, e trouxe o resultado de império material. O Quinto Império na forma seria idêntico aos impérios predecessores, não sendo, porém, quanto ao conteúdo, messiânico por excelência. Destarte, a partir dos impérios mundiais de Babilônia, de Pérsia, de Macedônia e de Roma, então iria surgir o Quinto Império conduzido por Portugal. Se na sucessão de Nabucodonozor, e de Ciro, e de Péricles e de Cesar Augusto, então surgiu D. Sebastião, e era um mito messiânico de glorificação de Portugal, então para Padre Vieira este império português representava a coroação de toda esperança judaico-cristã.
Quão diferente foi o Quinto Império em Fernando Pessoa! Não concordando que ele tivesse base e início materiais, do contrário o Quinto Império teria sido a Inglaterra e não uma esperança futura de Portugal, Fernando Pessoa situou seu nascimento em bases completamente espirituais, e, por conseguinte espiritualizou a manifestação messiânica de Dom Sebastião. Destarte, no lugar de partir de Babilônia ou da Assíria, partiu da Grécia como o seu primeiro momento. Não da Grécia enquanto império, mas como pátria da cultura universal. Que teve desenvolvimento e sequência na cultura romana, em seguida no cristianismo, para, então, a partir do Renascimento, fazer morada nesta cultura que podemos chamá-la de Européia, já priorizando os valores antropológicos que de certa forma se acharam na sua base de nascimento, a Grécia antiga. É a partir deste caldo cultural que se manifesta o Quinto Império, sendo o domínio universal deste Dom Sebastião o encontro e reconciliação da beleza, da ética e da justiça universais. Um domínio universal espiritual, que iria colocar todos os cidadãos e todas as manifestações do império em comunhão uns com os outros.
Em Gerson
Se o Quinto Império foi assim em Padre Vieira e em Fernando Pessoa, quão diferente é em Gerson! Apresenta a sua gênese, meio e fim em bases inteiramente novas. O quinto império é na verdade o quinto momento da Redenção, essencialmente. A Redenção vem se desenvolvendo, criando uma força tal, que então chega o momento em que se lança contra o mundo, representado pela estátua, e arrebata de suas mãos o domínio, todo o domínio, e o mesmo é restabelecido nas mãos de Deus. De modo que nele se acha em um só feixe de ação tanto o material de Padre Vieira como o espiritual de Fernando Pessoa.
E estes momentos da Redenção são representativos dos momentos do espírito, toda a sua estrutura (*), que ao se desvelar, levantando por dentro a História, vai operando a Redenção nos seus momentos.
E a estrutura do Espírito é exatamente esta: moral, espiritual, intelectual, filosófica, profética e jesuânica. Cada uma destas fases do espírito corresponde a uma estação do ano. Assim que a fase moral corresponde ao inverno; a fase espiritual, à primavera; a fase intelectual, ao verão; a fase filosófica, ao outono; a fase profética, ao período da colheita (**); e a “fase” jesuânica, termo último da evolução e momento em que a Idéia Absoluta se encontra com o Espírito Absoluto, o momento do usufruto (***). O Quinto Império, toda a caminhada do Milênio, prepara o caminho e as condições para o Sexto Império, quando então a eternidade que se instalou entre nós, já em potência avançadíssima no Quinto Império.
O que seriam os momentos moral e espiritual, intimamente interligados, porque intimamente interligados estão o inverno e a primavera? O momento moral se achava de posse daqueles que pegaram em pedra para cumprir a lei na mulher pecadora, mas o momento espiritual naquele que escrevia no chão. O momento espiritual não suprime o momento moral senão que o supera e transcende-o, como a flor supera e transcende o botão. O momento moral por certo que sobrevive no momento espiritual, como a lagarta sobrevive na borboleta. O momento moral é sempre condição para o momento espiritual. Jesus não disse para a mulher: que pecado você cometeu? Nenhum, porque o corpo é vosso, é propriedade vossa, e deves prestar contas do que faz com ele unicamente a ti, como é propenso a dizer a modernidade. Não, mas disse e reconheceu que a mulher era pecadora. Mas porque, além da moralidade, também possuía a espiritualidade, no lugar de executar o corpo, executou o pecado, não por qualquer coação ou força física, mas unicamente pelas armas da espiritualidade, o amor, com o não peques mais surtindo um grande efeito em sua vida.
Ora, a terra no seu movimento ao redor do sol depois de na sua passagem produzir as fases do inverno e da primavera, e deixar o resultado das flores, então principia à produção do verão e do outono. É um novo tempo, em que o material toma o lugar do espiritual, se é que podemos entender o fruto como material e as flores como espiritual (e podemos, porque o fundamento da lei é o mesmo). A Redenção, que encarnara a libertação no plano espiritual, ao custo do sangue de muitos mártires, agora vai encarnar a libertação material. É o momento do Marxismo, que fazendo uma leitura científica da realidade sócio-material, tornando compreensíveis os mecanismos da opressão material, cria as condições para a ação da Revolução que vai principiar criar uma sociedade indo na direção do que se acha em Isaías 65.17-23 e na direção do cumprimento escatológico segundo o que se acha no profeta Sofonias.
Portanto os quatro impérios são estes: Judaísmo, Moisés; Cristianismo, Paulo; Marxismo, Marx; Revolução, Lênin. Porque a quinta etapa do Espírito, a profética, é por Excelência sintética, ao sintetizar e trazer para si todos estes momentos anteriores acaba por produzir uma avassaladora força, chamada pelo profeta Isaías de Esplêndida Superioridade de Javé; é esta força a “Pedra” do livro do profeta Daniel, que foi cortada do monte, sem o auxílio de mão (Isaías 63.5; Lucas 18.8), e arremessada contra a Estátua a esmiuçando e se espalhando para a terra inteira a enchendo como a um só monte. Destarte, este Quinto Império, por ser a junção em corpo único da espiritualidade que se formou nos dois primeiros impérios e da materialidade socialista, realiza realmente tanto as esperanças de Padre Vieira como de Fernando Pessoa.
O livro do profeta Zacarias, capítulo 6, trás as imagens de quatro carros vindos de entre dois montes. Uma vez que é dito que os quatro carros são quatro espíritos que vem do céu, e uma vez que é dito que os que vão para a terra do norte são os que fizeram o espírito de Javé descansar na terra do norte, sendo, portanto, extensivo aos demais, então é feito a pergunta: estes dois montes seriam as duas fases da História, a teológica, que findou no final da Idade Média e que corresponde ao inverno e primavera, e a antropológica, que nasceu com e a partir da Renascença e que corresponde ao verão e ao outono, e que obraram realmente quatro carros, o judaísmo-cristianismo e o marxismo-leninismo?
Os Mistérios da Profecia
O que teria levado Bandarra ao estar profetizando naturalmente o advento do reino de Deus, do governo de Cristo, a associá-lo a Portugal? Teria sido o Deus que não faz nada sem antes revelar aos seus escravos, os profetas? Afinal era esperança entre os judeus que o Quinto Império da profecia de Daniel, interpretação do sonho de Nucodonozor sobre a estátua representativa dos impérios mundiais, era esperado entre o povo judeu, mas, se seria um não judeu, como se acha em Isaías, não teria de haver um aviso da parte de Deus? Que o fez por intermédio de um poeta popular com forte suspeita de ser da descendência do povo judeu?
E Bandarra fez constar em suas trovas de cuja entranhas de Portugal viria o Quinto Império, confiado à nação lusitana pelo calvário, porque era nascido e vivia na nação portuguesa, ou na verdade há algo de mais profundo nisto, justificando então ser uma revelação e uma necessidade de revelação por parte de Deus, ou seja: que o Quinto Império estava sendo gestado no caldo cultural português e de nenhum outro povo? A miscegenação de raças, costumes e idéias a que levava a colonização portuguesa mundo afora, com o português se fundindo e se diluindo ao nativo, desde primórdios, ao contrário das demais colonizações que não perdiam parte de si, tudo isto era na verdade já o Quinto Império se gestando no seu ventre, como uma estrela é gestada no ventre de uma nuvem de poeira?
Quem seria a Ilha do Encoberto de Bandarra? Teria sido o Brasil, como muitos chegaram a afirmar? Quem teria sido ou seria o Encoberto, já que muitos o associaram com reis de Portugal, não, porém, Padre Vieira e Fernando Pessoa, que o viram unicamente na perspectiva bíblica?
No imaginário popular D. Sebastião não morreu, mais foi para a Ilha do Encoberto donde então iria voltar, restaurando as glórias de Portugal, que para Padre Vieira seria as glórias de Deus e para Fernando Pessoa as glórias da Humanidade: isto estaria na linha profética bíblica que mostra o advento do Messias em diferentes figuras, Moisés, Josué, Samuel, Davi, Salomão, Josias, Eliaquim, Zorobabel?
Gerson e D. Sebastião
Se o que levou Bandarra a conceber o Quinto Império em íntima conexão com Portugal na verdade foi necessidade de Deus, cujo Quinto Império não se manifestaria em terras de Israel ou entre judeus, mas fora, em terra estrangeira, entre estrangeiros, e como tal seria obra de Deus então fica a pergunta: uma vez que o significado do nome Gerson no hebraico quer dizer peregrinando em terra estrangeira ou nascendo em terra estrangeira (Êxodo 2.22), e uma vez que no momento do seu encontro teofânico o que ocorreu foi que a Divindade começou a construir nele o Quinto Império, teoricamente, e quando chegasse o tempo exato então seria a festa da sua construção, do seu início de construção, com os seus trabalhadores em grande festa?
Ora, sabemos que D. Sebastião foi um guerreiro que morreu jovem, em 1578, com pouco mais de 24 anos, e é de todo conhecido que Gerson teve o seu encontro teofânico no ano de 1978, então um jovem com quase vinte e cinco anos: era então que a Divindade se lembrava de Bandarra, de Padre Vieira, e em especial de Fernando Pessoa que tinha isto como certo? E o sobre-nome de Gerson, Soares de Melo, que é tipicamente português, é linha que também serve de análise para os interessados, de que nele ao menos no nome sobrevive ligação com Portugal?
A verdade é que se passaram trinta e três anos, desde aquele abril de 78, e tem chegado o momento de se começar em cima da terra a construção prática do Quinto Império. E todos os que querem ter a glória e a honra de deixar a sua marca na história, e a certeza da vida eterna, então que se apresentem, não, porém, os covardes e os que não têm fé, e os medrosos que temem a língua afiada daqueles que irão julgar as boas novas a partir dos dramáticos acontecimentos de Canudos, sim, estes terão outra destinação. Os que são de Araçatuba devem bater na porta da casa de número 1107 na Avenida Prestes Maia; ali estamos discutindo a Nova Teologia da Libertação, de cujo ventre brotará o Quinto Império. Os que são de Porto Alegre procurem Paula Ribeiro. Somos pouco, muito pouco, mas logo seremos o batalhão de cem da música Guerra dos Meninos, e logo seremos os seus milhões, invadindo ruas, campos e cidades e espalhando aos corações o Amor e a Justiça do Quinto Império. Foi isto o que viram Bandarra, Padre Vieira e Fernando Pessoa, até mesmo Fernão Lopes com a Sétima Idade, sem falar, é claro, da Ilha dos Amores de Camões? Foi isto o que viu o profeta Daniel e todos os profetas de Israel, todos os santos do Cristianismo?
“E nos dias daqueles reis o Deus o céu estabelecerá um reino que jamais será arruinado. E o próprio reino não passará jamais a outro povo. Esmiuçará e porá termo a todos estes reinos e ele mesmo ficará estabelecido por tempos indefinidos; pois viste que se cortou do monte uma pedra, sem mãos, e que ela esmiuçou o ferro, o cobre, o barro, a prata e o ouro.”
Daniel, ao estar falando do Quinto Império diz que ele é entregue ao povo que são os santos do Supremo (****). Quem são os santos do Supremo? Cristãos e socialistas, que o profeta Zacarias viu saindo de dois montes, Teológico e Antropológico, nos carros de Deus. E todo o borbulhar dialético da Nova Teologia da Libertação é para selar a sua união em corpo único, destes carros de Deus que estão saindo dos seus montes. Que se apresentem os escolhidos de Deus, como dos seus santos.
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