O mito do Preste João conheceu uma difusão extraordinária na Europa medieval, ligado à convicção de que existia um reino fabuloso que tinha como imperador o Preste, reino que foi conhecendo várias localizações, desde a área tártara, Índia (nestoriana) e Abissínia. A partir de 1165 foi posta a circular uma carta do mítico rei, dirigida a “Emanueli, Romeon gubernatori” (imperador bizantino), documento fictício destinado a estimular a imaginação fantasiosa do Ocidente medieval: confirmava o poder e a riqueza do chefe (também espiritual) de um território que atravessava as três Índias e o deserto de Babilónia até atingir a torre de Babel, razão que determinou o interesse em localizar um rei tão potente, ainda por cima cristão, nas terras do Oriente.
A demanda do Preste também interessou o imaginário português no processo que conduziu aos descobrimentos, considerando que, desde as primeiras viagens, as instruções dadas aos navegadores continham a explícita indicação de obterem notícias do fabuloso reino. A “Crónica” de Zurara, por exemplo, informa-nos que em 1442 o Infante D. Henrique tinha encarregado Antão Gonçalves de procurar nas costas do Rio do Ouro, na Mauritânia, notícias “das Índias e da terra do Preste João”. E o cronista comenta que o Infante pensava que “talvez agora a providência lhe deparasse nas remotas regiões algum rei cristão de crenças vivas e ânimo esforçado, que o pudesse auxiliar na guerra aos inimigos da fé”.
Em 1486 parte ainda Bartolomeu Dias com três naus para a costa africana e com a missão de deixar escravos negros nas terras descobertas com a finalidade de recolherem notícias sobre o Preste João. Mas no ano seguinte assiste-se a uma alteração radical sobre a possível localização, com a partida, desta vez por terra, de Afonso de Paiva e Pêro da Covilhã, os quais viajam até ao Cairo, atravessam o Mar Vermelho e chegam a Adem. Aqui se separam: Afonso de Paiva dirige-se para a Etiópia enquanto Pêro da Covilhã estabelece contactos com os mercados orientais das especiarias: Cananor, Calcutá e Goa para depois voltar ao Cairo, onde deveria encontrar o companheiro. Sabe então da morte deste, prepara o regresso à pátria mas encontra dois judeus portugueses, enviados ao Cairo por D. João II para saber notícias dos dois emissários.
Pêro da Covilhã deve ter chegado à conclusão de que o reino do Preste João só se poderia localizar na Etiópia. Por ordem do rei, parte de novo na direcção do golfo Pérsico, onde deve ter chegado em 1490. Sabe-se que o Preste o recebeu com muitas honras mas, por razões que se desconhecem, não conseguiu sair da Etiópia, onde se casou e onde vivia ainda em 1526, no tempo da expedição de D. Rodrigo de Lima.
Só depois da chegada à Índia se começa a ter uma noção mais exacta da localização da Etiópia. Tudo se torna menos abstracto quando em 1512 o embaixador etíope Matheus visitou o rei de Portugal, numa altura em que a Etiópia estava constantemente ameaçada pelos ataques turcos. E em 1520 os portugueses puderam tomar contacto directo com o reino do Preste e dele dar notícia a partir da própria experiência. Só nessa data o Ocidente poderá beneficiar desse conhecimento, sobretudo depois da referida expedição de D. Rodrigo de Lima que teve como cronista o Padre Francisco Álvares (“Verdadeira Informação das Terras do Preste João”, publicada em 1540), obra que conheceu uma extraordinária difusão a partir das traduções para italiano (1550), para castelhano (1557), para alemão (1566) ou para francês (1574).
Depois desta expedição, os portugueses puderam estabelecer contactos mais assíduos com as terras do Preste (que afinal se chamava Onandiguel), através de sucessivas expedições, uma das quais parte da Índia em socorro do négus da Etiópia contra os turcos, expedição dirigida por D. Cristóvão da Gama e narrada na “História” de Miguel de Castanhoso (1564) e na “Breve Relação” de João Bermudez (1565). Estas obras difundiram finalmente uma imagem real do personagem que ficou conhecida como Preste João – a versão latina da carta enviada ao imperador bizantino exibia no exórdio o nome de “Presbiter Iohannes” -, corrigindo e redimensionando os aspectos fantásticos que contribuiram para a difusão do mito no Ocidente, como imaginário colectivo, já desde a época medieval.
( Estrolabio )
A demanda do Preste também interessou o imaginário português no processo que conduziu aos descobrimentos, considerando que, desde as primeiras viagens, as instruções dadas aos navegadores continham a explícita indicação de obterem notícias do fabuloso reino. A “Crónica” de Zurara, por exemplo, informa-nos que em 1442 o Infante D. Henrique tinha encarregado Antão Gonçalves de procurar nas costas do Rio do Ouro, na Mauritânia, notícias “das Índias e da terra do Preste João”. E o cronista comenta que o Infante pensava que “talvez agora a providência lhe deparasse nas remotas regiões algum rei cristão de crenças vivas e ânimo esforçado, que o pudesse auxiliar na guerra aos inimigos da fé”.
Em 1486 parte ainda Bartolomeu Dias com três naus para a costa africana e com a missão de deixar escravos negros nas terras descobertas com a finalidade de recolherem notícias sobre o Preste João. Mas no ano seguinte assiste-se a uma alteração radical sobre a possível localização, com a partida, desta vez por terra, de Afonso de Paiva e Pêro da Covilhã, os quais viajam até ao Cairo, atravessam o Mar Vermelho e chegam a Adem. Aqui se separam: Afonso de Paiva dirige-se para a Etiópia enquanto Pêro da Covilhã estabelece contactos com os mercados orientais das especiarias: Cananor, Calcutá e Goa para depois voltar ao Cairo, onde deveria encontrar o companheiro. Sabe então da morte deste, prepara o regresso à pátria mas encontra dois judeus portugueses, enviados ao Cairo por D. João II para saber notícias dos dois emissários.
Pêro da Covilhã deve ter chegado à conclusão de que o reino do Preste João só se poderia localizar na Etiópia. Por ordem do rei, parte de novo na direcção do golfo Pérsico, onde deve ter chegado em 1490. Sabe-se que o Preste o recebeu com muitas honras mas, por razões que se desconhecem, não conseguiu sair da Etiópia, onde se casou e onde vivia ainda em 1526, no tempo da expedição de D. Rodrigo de Lima.
Só depois da chegada à Índia se começa a ter uma noção mais exacta da localização da Etiópia. Tudo se torna menos abstracto quando em 1512 o embaixador etíope Matheus visitou o rei de Portugal, numa altura em que a Etiópia estava constantemente ameaçada pelos ataques turcos. E em 1520 os portugueses puderam tomar contacto directo com o reino do Preste e dele dar notícia a partir da própria experiência. Só nessa data o Ocidente poderá beneficiar desse conhecimento, sobretudo depois da referida expedição de D. Rodrigo de Lima que teve como cronista o Padre Francisco Álvares (“Verdadeira Informação das Terras do Preste João”, publicada em 1540), obra que conheceu uma extraordinária difusão a partir das traduções para italiano (1550), para castelhano (1557), para alemão (1566) ou para francês (1574).
Depois desta expedição, os portugueses puderam estabelecer contactos mais assíduos com as terras do Preste (que afinal se chamava Onandiguel), através de sucessivas expedições, uma das quais parte da Índia em socorro do négus da Etiópia contra os turcos, expedição dirigida por D. Cristóvão da Gama e narrada na “História” de Miguel de Castanhoso (1564) e na “Breve Relação” de João Bermudez (1565). Estas obras difundiram finalmente uma imagem real do personagem que ficou conhecida como Preste João – a versão latina da carta enviada ao imperador bizantino exibia no exórdio o nome de “Presbiter Iohannes” -, corrigindo e redimensionando os aspectos fantásticos que contribuiram para a difusão do mito no Ocidente, como imaginário colectivo, já desde a época medieval.
( Estrolabio )
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