Praia da Ursa - Atlântida
Quinto Posto Representativo – Sintra, Janeiro de 2013
Há três nomes incontornáveis pioneiros na Arqueologia e Etnologia em Portugal aos quais os avanços modernos nesses ramos devem tudo: Martins Sarmento (Guimarães, 9.3.1833 – Guimarães, 9.8.1899), cuja acção incidiu sobretudo no Norte do País; José Leite de Vasconcelos (Ucanha, Tarouca, 7.7.1858 – Lisboa, 17.5.1941), autor das Religiões da Lusitânia, com trabalho de maior incidência na zona Centro; Estácio da Veiga (Tavira, 6.5.1828 – Lisboa, 7.12.1891), autor da Carta Arqueológica do Algarve escolhido como seu campo de trabalho, portanto, na região Sul de Portugal.
As obras deixadas por esses autores e as suas descobertas que trouxeram à luz o Portugal Pré-Histórico, Proto-Histórico e Histórico, são de valor incalculável suficientes para imortalizarem nas páginas da Ciência os seus nomes de pioneiros ilustríssimos, isto independentemente de algumas das conclusões a que chegaram serem passíveis de apuramento e precisão, certamente porque no seu tempo não existia absolutamente nada para poderem comparar com os seus estudos e pesquisas. Muitas das descobertas que fizeram catalogaram-nas sob dúvidas e interrogações, conscientes das suas limitações numa época de pioneirismo arqueológico e etnológico não só no País como em toda a Europa, exceptuando as ainda assim insipiente iniciativas dos sábios de Napoleão Bonaparte no início do século XIX, e já antes, em território nacional, no século XVI pelo racionalista André de Resende, autor de As Antiguidades da Lusitânia.
A par dos citados, aprofundando esses conhecimentos históricos, arqueológicos, paleontológicos e etnológicos como cientista renomeado e sobretudo Teósofo dotado de genialidade ímpar, perfila Mário Roso de Luna (Logrosán, Cáceres, 15.3.1872 – Madrid, 8.11.1931), desvelando páginas e páginas da Intra-História Ibérica nos vários tomos da sua insuperável Biblioteca de las Maravillas, onde expõe magistralmente a proximidade familiar entre ibéricos e atlantes como partes de um tronco comum, a mesma civilização da Atlântida, tema que um seu condiscípulo português, o arquitecto A. R. Silva Júnior, viria a desenvolver e publicar em Lisboa na revista A Arquitectura Portuguesa, desde Janeiro de 1930 a Maio de 1933. Nesse seu estudo precioso – A Atlântida – Subsídio para a sua reconstituição histórica, geográfica, etnológica e política – Silva Júnior dá a Península Ibérica com uma antiguidade superior aos cálculos oficiais, indo dispô-la sem reservas como parte do continente atlante. Diz:
“No cataclismo de há 200.000 anos ficaram, por assim dizer, fixadas a América do Norte e parte da do Sul, ao passo que propriamente o continente atlante passou a ser dividido em duas partes: as ilhas Ruta e Daitya.
“Após o terceiro cataclismo sucedido há 80.000 anos, a Atlântida ficou reduzida à ilha de Poseidonis, redução considerável da parte Ruta, ao passo que a parte Daitya quase desapareceu reduzindo-se a uma ilha afastada de Poseidonis e situada ao largo em frente da Libéria, na costa africana.
“Finalmente, no ano 9.564 a.C. um quarto cataclismo fez sumir tudo o que restava da Atlântida no fundo do Oceano Atlântico, ficando apenas como baliza, como memória, o arquipélago dos Açores, terras que há 1.000.000 de anos parece que já existiam, que jamais se submergiram, sendo pois de uma respeitável e veneranda antiguidade.
“Mas outras partes da primitiva Atlântida existem ainda hoje, mas que já dela se haviam separado há 800.000 anos, sendo elas: parte da América do Norte, Central e do Sul, compreendendo quase todo o Brasil, Bolívia, Peru, Equador e Colômbia.
“Na Europa temos ainda, como restos da Atlântida, a Irlanda, a Escócia e uma pequena parte da Inglaterra, propriamente dita.
“A Península Hispânica existia já há 800.000 anos, evidentemente sem a configuração que tem hoje mas englobada numa extensa superfície que compreendia parte do Mediterrâneo, África do Norte, ilhas de Cabo Verde, Marrocos, etc., região então banhada ao sul pelo mar que cobria o deserto do Sahara.
“É de calcular que, através de tantos milénios que abrangeram idades geológicas, os contornos dos continentes e das ilhas se modificassem constantemente, e as imersões e submersões de extensas superfícies de terras tivessem dado, através das idades, fisionomias geográficas muito diferentes ao nosso Globo.”
A visão tradicional das Raças e Sub-Raças, sobretudo as dos Períodos Lemuriano e Atlante, altera significativamente o sentido paleontológico e etnológico das mesmas como é auferido nos pressupostos das especulações académicas, antepondo-se:
1. O Homem classificado do Paleolítico Superior, variante estranha e anómala dos hominídeos que o precederam, inscreve-se no tipo inicial atlante descendente da 3.ª Raça-Mãe Lemuriana, na qual o estado Hominal se formalizou sob a influência directa dos “Poderes invisíveis ou sobrenaturais”, antes, das Hierarquias Criadoras – assinaladas no constelado celeste, base da noção religiosa dos povos – que lhe incutem as bases de racionalização da sua vida, do meio de subsistência através da caça e da pesca e dos mais elementares princípios de fertilidade animal, ou seja, da procriação pelo reconhecimento dos sexos opostos, começando o sexo a agir pelo impulso da mente rudimentar.
2. Durante o Período Mesolítico – Epipaleolítico, fase final e pós-glacial do Paleolítico – grandes transformações na estrutura geológica e climatérica da Terra provocaram, em princípio, forte traumatismo nos povos primitivos, cuja forma ancestral de vida como caçadores-colectores viu-se alterada completamente pela emigração de espécies animais, devido a radicais mudanças climáticas e a alterações geológicas que para eles resultava incompreensíveis, mas em conformidade à mudança cíclica de uma Raça para outra, mudando-se os biótipos dos seres vivos, a começar pelo Homem, e os de toda a natureza acompanhando as transformações geológicas e atmosféricas.
3. Do Epipaleolítico final e até meados do Neolítico os povos são migradores, caçadores e pastores; no Neolítico médio sedentarizam-se como agricultores e construtores; daí em diante, por tempo indeterminado, começam a aparecer nas zonas contíguas às vertentes atlânticas os restos de povos herdeiros de uma civilização superior desaparecida nos cataclismos geológicos que se produziram. Tratar-se-á do nascimento, florescimento, decadência e desaparecimento da 4.ª Raça-Mãe Atlante.
4. Esses sobreviventes, pelo seu escasso número e pelas precárias condições de vida regredida à condição neolítica, e até paleolítica, desde a sua salvação da catástrofe universal, tiveram que refazer e readaptar-se ao novo modus vivendi, uns evoluindo mais rápido que outros (nisto têm a sua origem os povos que ainda hoje vivem em estado de primitivismo).
5. Uma parte significativa desses sobreviventes atlantes permaneceu na franja atlântica europeia, criando uma espécie de “civilização mágica” cujo testemunho incontestável está no desenvolvimento significativo da cultura megalítica como possível herança rudimentar de outra ainda mais antiga.
6. Outra parte dos sobreviventes da Raça Atlante – sendo a primitiva semente humana da actual Raça Ariana – passou ao Norte de África e estabeleceu-se nas zonas férteis de aluvião dos grandes rios, indo constituir o arranque das primeiras e mais importantes civilizações proto-históricas e históricas norte-africanas e médio-orientais, disseminadas por todo o Mediterrâneo e até o Sul da Europa.
Certamente o mais significativo testemunho monumental da presença atlante ibérica será o perturbante colosso de Pedralva, actualmente postado no parque-alameda Dr. Mariano Felgueiras, à entrada da cidade de Guimarães. O Dr. Martins Sarmento adquiriu-o em 1892 e em 1929 foi trazido do Monte de Picos, freguesia de Pedralva (Braga), para o jardim do seu museu vimaranense, onde esteve exposto até há poucos anos.
???????????????????????????????
Colosso de Pedralva, Guimarães
Trata-se da estátua de um homem pujante com 2,95 metros de altura, constituída por três peças de granito extremamente rudes de formas esboçadas um tanto toscamente, mais parecendo desgastadas pelo tempo. Como disse, representa uma figura viril sentada com o braço direito levantado com um capacete ou coroa na cabeça tipo sumério e vestido só com uma tanga donde descai uma franja sobre a coxa direita, que alguns associam (erroneamente) ao órgão sexual e, por conseguinte, ligam-na aos primitivos cultos fálicos relacionados à fecundidade. A estátua não me parece completa, ainda assim parece inscrever-se na estatuária tradicional da arte castreja minhota e galaica dada ao deus Sucelo (Sucellus) galo-celta, cujos equivalentes grego e romano eram Hefesto e Vulcano, representados empunhando um martelo ou malho de trabalhar o ferro (indicativo da respectiva Idade do Ferro e da Época dos Metais no seu início), artefacto que também acompanha Thor, Odin e mesmo o Dagda irlandês, que em vez de malho empunha uma maça. Sendo Vulcano ou Sucelo o “deus do malho”, senhor das artes metalúrgicas e dos fogos subterrâneos, na antiga Roma celebrava-se a sua divindade nas vulcanalia no pico do Verão, em 23 de Agosto, enquanto os galos celebravam Sucelo (“o que bate ou malha bem”) nos fins da Primavera, após as primeiras colheitas, e inícios do Verão.
larouco_5[1]
Deus Sucellus
Desprezando esses factos etnológicos elementares, pretendendo dar um sentido exclusivamente cristão ao enigma do colosso com explicação implausível próxima da anedótica, certo pároco local viu nele uma representação do bíblico Golias destinado a figurar no Bom Jesus de Braga!!! Na mesma linha, recentemente algum arqueólogo deu-o como “a estátua incompleta, não mais antiga que o século XVII ou XVIII, de S. João Baptista destinada ao mesmo santuário do Bom Jesus de Braga”!!!
Essas teorias impossíveis ostracizam conscientemente o facto preliminar de em Pedralva ter havido um cromeleque galo-celta, de onde o mesmo Martins Sarmento recolheu, além da estátua em questão, muito mais material arqueológico, como esse do “ídolo” também trazido por ele para Guimarães. Este ilustre arqueólogo, nos seus Apontamentos de Arqueologia, assim descreve o insólito colosso:
O homem de pedra. A sapata do “homem de pedra”, de Pedralva, foi cortada com a maior sem cerimónia pelo pedreiro Miguel Bonito, de Braga, que viu nela uma boa soleira. Remendou-se a coisa como se pôde; juntaram-se as duas partes separadas da estátua e lá está ela hoje num terreno cedido pela dona da Casa das Eiras, e propriedade da Sociedade, à qual a junta da paróquia a cedeu. Trabalharam na remoção do colosso sete juntas de bois, e a despesa de tudo importou em 16,120 réis. Na parte superior da estátua foi suprimida a rodela em que ela assentava. Diz o P. Manuel que ela decerto já tinha sido cortada, na primitiva, para ser ajustada à inferior, com as proporções devidas. É possível e provável. Uma terceira peça só se explicaria por erro, para menos, nas proporções – grosseira emenda. A peça superior é mais grossa que a inferior: estava apenas esboçada – não admira.
Colosso de Pedralva (medidas). Comprimento da peanha – 2,22. Diâmetro maior da barriga – 1 m. Diâmetro menor da barriga – 0,22. Altura do assento – 1,10. Fémur da perna dobrada – 0,90. Tíbia da perna dobrada (fora o pé) – 0,95. Pé – 0,50. O outro pé – 0,73. Membro v. Largura – 0,15. Largura do pé – 0,4. Altura da cara – 1 m. Largura da cara – 0,60. Largura dos ombros – 1,65. Braço estendido – 1,15. Largura dele – 0,55. Altura da cabeça (por trás) – 1,40. Altura das costas (peça maior) – 0,85. Coroa da cabeça – 0,60.”
Pessoalmente, remonto este colosso castrejo à época dos galos, consequentemente, ao mesmo em que viveu Ur-Gardan, parente de um tempo onde a cultura atlante ainda exercia forte domínio nos povos ibéricos, tanto no gigantismo das peças como na sua morfologia. Será, possivelmente, a retratação de um líder tribal ou de clã eleito legislador ou Manu e com isso “rei divino”, espécie de Rishi, certamente pelos seus predicados superiores mentais, morais e físicos, motivo para ser disposto em atitude hierática de comando e de magistério ou de transmissão de ordens e saberes sentado em seu trono, empunhando algum objecto (ausente) característico da sua posição de líder, fosse um malho em tau, fosse uma lança, fosse ainda uma vara ou bordão. Costumava-se postar as estátuas dos chefes espirituais e temporais das tribos e clãs galo-celtas e celtiberos nos lugares nobres destacados dos povoados, fosse no centro dos mesmos, fosse no cume de elevações sobranceiras a eles, realçando a sua função mágica como totem e tabu, cuja violação importava as mais severas penas tanto para o transgressor como para a colectividade transgredida.
Também em Pedralva (“pedra alva”, branca, que a arqueoastronomia associa a Vénus) achou-se a curiosa figura antropomórfica do simplesmente chamado “ídolo”, coevo do colosso. Os seus contornos sugerem-me os idênticos encontrados na estatuária olmeca sul-americana, etnia descendente da 3.ª Sub-Raça Tolteca atlante. Digo sugerem-me e não que sejam, mas aceitando a origem comum pós-atlante. Martins Sarmento descreve o achado nos seus Apontamentos de Arqueologia:
Ídolo? Numa poça da Casa da Eira há uma figura muito tosca, que a tradição diz ser trazida do alto dos Picos (não houve aí capela nenhuma). Tem os braços cruzados sobre o peito; os olhos são dois círculos e assim de resto; mas o notável é que parece ter indicadas as partes genitais. O P. Manuel ficou de a arranjar.
Estátua. Ídolo? Diz o P. Manuel que num tanque da Casa das Eiras há uma estátua muito suspeita. Parece de mulher; tem os braços cruzados sobre o peito; as orelhas parecem mais rudimentos de cornos, e fala em alguma coisa de obsceno, que não sabe bem precisar. Dos lados tem duas cruzes, uma em cada um; mas o mais notável é que a tradição a dá como vindo do monte, sem se precisar também qual, parecendo todavia ser o Coubroso (Picos). A “fidalga” não a cede, por ser título da casa, memória, etc. Se realmente for tão suspeita como diz o P. Manuel, o que averiguarei como puder e quando puder, veremos se se vence a dificuldade da conquista.”
DSC01514
“Ídolo” de Pedralva – Museu Martins Sarmento, Guimarães
O “ídolo” parece ser o Genius Loci da tribo pós-atlante de Pedralva, ele mesmo marcando, no simbolismo das suas formas, o Ciclo de Evolução Universal ou Pramantha (assinalado na cruz, sobretudo a swástika ou suástica na sua rotação solar, positiva, evolucional, destrocêntrica) correspondente à 4.ª Raça-Mãe Atlante, cujo valor cabalístico era o 4 marcado pelo quadrado tradicionalmente associado à figura feminina. Sobre o Ciclo ou Pramantha Atlante e a sua relação com os Seres Superiores (Assuras) que nos finais dessa época se interiorizaram no seio da Terra indo constituir o Povo de Agharta, ao mesmo tempo relacionando essa antiga Raça-Matriz com o Arcano 16 do Tarot e o signo da Balança, numa conversa em família na Vila Helena (São Lourenço do Sul de Minas Gerais, Brasil) no dia 17 de Fevereiro de 1957, o Professor Henrique José de Souza revelou:
“O Povo de Agharta é constituído dos grupos de Assuras que se iluminaram na Face da Terra e desceram para uma das suas Sete Cidades, de acordo com as Sub-Raças realizadas no Mundo dos Homens. Sim, o Povo de Agharta é constituído de cada grupo de 777 Assuras, multiplicado por tantas vezes quantas são os seus números. Isto é, por grupo de 777 vezes 777… No presente caso, o número do grupo é 555.
“Temos, portanto, em Agharta a população que equivale à seguinte multiplicação: 777 Assuras vezes 555 grupos que se realizaram, logo, é igual ao número de 431.235… sem falar nos sub-aspectos.
“Podemos fazer a iniciática escala:
“3.ª Raça-Mãe deu 333 Pramanthas vezes 777 Seres Assuras. É igual a 258.741.
“4.ª Raça-Mãe deu 444 Pramanthas vezes 777 Seres Assuras. É igual a 344.988.
“5.ª Raça-Mãe deu 555 Pramanthas vezes 777 Seres Assuras. É igual a 431.235.
“Por esse processo cíclico foi-se formando o Povo Aghartino. Este Trabalho começou no meado da 3.ª Raça-Mãe e terminará no meado da 6.ª Raça-Mãe.
“Os Assuras vêm trazer o Princípio Átmico (Espiritual) para firmá-lo nos que vão para as Embocaduras. Tudo isso representa um grande esforço desses Adeptos. Esses 777 são os Vitoriosos do último grupo que saiu da Face da Terra. Os 777 Seres do último Pramantha que se firmaram na Consciência Átmica são os que superaram o Karma Humano, os que conquistaram a Superação e a Metástase Avatárica.”
De volta à questão da semelhança do “ídolo” de Pedralva com o estilo Olmeca, dito Ramo da Sub-Raça Tolteca, matriz dos povos pré-colombianos do México, isso traz-me igualmente à memória aquele trecho do manuscrito maia do Yukatan pertencente ao Codex Troanus, escrito há 3.500 anos, a respeito da destruição de Poseidonis:
“No ano 6 do Kan a II, Muluc, no mês de Zac, terríveis tremores de terra se produziram e continuaram, sem interrupção, até 13 Chuen. […] A região das colinas de argila, o País de Mu, foi sacrificada. […] Depois de ter sido sacudida por duas vezes, desapareceu subitamente durante a noite; o solo foi continuamente levantado por forças vulcânicas que o fizeram elevar e abaixar, em muitos pontos, até que cedeu; as regiões foram então separadas umas das outras, depois dispersas, não tendo podido resistir a tão terríveis convulsões, afundaram-se arrastando consigo 64 milhões de habitantes. Isto passou-se 8064 anos antes da escritura deste livro.”
Essa data maia transposta para a cronologia actual, foi calculada como correspondendo a 11 de Fevereiro de há 11.194 anos.
O colosso de Pedralva perfila na mesma origem com uma outra estátua esculpida no basalto negro vulcânico, pedra-mãe do substracto da ilha do Corvo, no arquipélago dos Açores. Tratava-se da estátua equestre de uma figura humana com um braço apontando para Oeste com o braço direito estendido e o esquerdo agarrando as crinas do alazão com as patas dianteiras erguidas, tendo na base uma inscrição fenícia, o “povo vermelho” proto-histórico distinguido pelas suas navegações “de longo” no Mediterrâneo e Atlântico, descendente directo da 6.ª Sub-Raça Akádia atlante, ele mesmo semi-atlante a quem se deve a invenção da escrita com que se iniciou o Período Histórico. Estará nos fenícios a origem dessa estátua desaparecida mas avistada em 1452 pelos navegadores portugueses na parte mais alta da ilha, a noroeste do cume do vulcão do Corvo.
Estátua equestre - ilha do Corvo
Estátua equestre (desaparecida) da ilha do Corvo, Açores
O cronista Damião de Góis (1502-1574) na sua Crónica do Príncipe D. João (futuro rei D. João III), capítulo IX, 1567, dá a seguinte informação sobre esse insólito monumento testemunho incontornável da presença humana nas ilhas açorianas nas épocas mais recuadas da História a despeito de todas as negações actuais:
“[…] uma estátua de pedra posta sobre uma laje, que era um homem em cima de um cavalo em osso, e o homem vestido de uma capa de bedém, sem barrete, com uma mão na crina do cavalo, e o braço direito estendido, e os dedos da mão encolhidos, salvo o dedo segundo, a que os latinos chamam índex, com que apontava contra o poente.
“Esta imagem, que toda saía maciça da mesma laje, mandou el-rei D. Manuel tirar pelo natural, por um seu criado debuxador, que se chamava Duarte D´Armas; e depois que viu o debuxo, mandou um homem engenhoso, natural da cidade do Porto, que andara muito em França e Itália, que fosse a esta ilha, para, com aparelhos que levou, tirar aquela antigualha; o qual quando dela tornou, disse a el-rei que a achara desfeita de uma tormenta, que fizera o inverno passado. Mas a verdade foi que a quebraram por mau azo; e trouxeram pedaços dela, a saber: a cabeça do homem e o braço direito com a mão, e uma perna, e a cabeça do cavalo, e uma mão que estava dobrada, e levantada, e um pedaço de uma perna; o que tudo esteve na guarda-roupa de el-rei alguns dias, mas o que depois se fez destas coisas, ou onde puseram, eu não o pude saber.”
O cronista refere ainda que o capitão do donatário, Pêro da Fonseca, presente nas ilhas das Flores e do Corvo em 1529:
“[…] soube dos moradores que na rocha, abaixo donde estivera a estátua, estavam entalhadas na mesma pedra da rocha umas letras; e por o lugar ser perigoso para se poder ir onde o letreiro está, fez abaixar alguns homens por cordas bem atadas, os quais imprimiram as letras, que ainda a antiguidade de todo não tinha cegas, em cera que para isso levaram; contudo as que trouxeram impressas na cera eram já mui gastas, e quase sem forma, assim que por serem tais, ou porventura por na companhia não haver pessoa que tivesse conhecimento mais que de letras latinas, e este imperfeito, nem um dos que ali se achavam presentes soube dar razão, nem do que as letras diziam, nem ainda puderam conhecer que letras fossem.”
Por sua vez, o padre Gaspar Frutuoso (1522-1591), nascido na ilha de São Miguel e um dos primeiros historiadores nativos das Açores, escreveu por volta de 1590 no volume VII das Saudades da Terra:
“[…] um vulto de um homem de pedra, grande, que estava em pé sobre uma laje ou poio, e na laje estavam esculpidas umas letras, e outros dizem que tinha a mão estendida ao noroeste, como que apontava para a grande costa da Terra dos Bacalhaus (Terra Nova); outros dizem que apontava para o sudoeste, como que mostrava as Índias de Castela (Antilhas) e a grande costa da América com dois dedos estendidos e nos mais, que tinha cerrados, estavam uma letras, ou caldeias ou hebreias ou gregas, ou doutras nações, que ninguém sabia ler, mas que para os daquele ilhéu e ilha das Flores diziam: Jesus avante. Os construtores teriam sido, na sua opinião, os cartagineses pela viagem que eles para estas partes fizeram, […] e da vinda, que das Antilhas alguns tornassem, deixariam aquele padrão com as letras por marco e sinal do que atrás deixavam descoberto.”
António Cordeiro (1641-1722), outro dos mais antigos historiadores açorianos, também refere-se à estátua equestre como “antigualha mui notável”, e Manuel de Faria e Sousa (1590-1649) escreveu de Madrid, na Epítome de las Historias Portuguesas, sobre a estátua e as letras incompreensíveis.
Repara-se haver algumas imprecisões no texto do padre Gaspar Frutuoso passíveis de apuramento. A estátua equestre seria de origem fenícia e não cartaginesa (a civilização de Cartago descendente directamente daquela de Tiro), facto provado pelo achado de diversas moedas fenícias na região, algumas cunhadas com a figura do cavaleiro, o que lhe dá uma importância capital para esse povo navegador proto-histórico tendo erigido o monumento à sua memória eterna. Possivelmente seria o próprio Ra-Mu, “Espírito do Sol”, com o indicador apontando o Ocidente Primordial na época tendo o seu centro na 8.ª cidade atlante capital da civilização: Muakram, a mesma Aptalântida instalada no que é hoje o Brasil, o Grande Ocidente do Mundo. Muito possivelmente a mensagem gravada no pedestal da estátua do Cavaleiro Atla ou Mu-Ka, conformada à sua postura sinalética, seria: Eis ali o Sol do Mundo Médio na Terra!Mu-Ak-Ram, donde Muakram, segundo revelou o Professor Henrique José de Souza em 02.10.1953.
Moedas fenícias - Açores
Exemplar de moeda fenícia (frente e verso) achada nos Açores
Os navegadores retornados das Antilhas, segundo o texto do padre Frutuoso, serão antes os sobreviventes das Atlante-ilhas, dizimadas por gigantesca catástrofe natural. Isto leva-me a transcrever trecho significativo da Inscrição Caldaica depositada na biblioteca do templo do Palácio do Potala em Lhassa, Tibete, possivelmente levado para aí por viajantes sírios ou mongóis sendo valioso documento escrito 2.000 a.C. que descreve a destruição de Poseidonis:
“Quando a estrela Baal caiu no lugar onde hoje só há mar e céu, as Sete Cidades, com as suas portas de ouro e templos transparentes (puros, imaculados, onde se cultuava e cultivava a virtude, digo eu) tremeram e estremeceram como folhas de árvores movidas por vendaval, e, então, línguas de fogo e de fumo elevaram-se dos palácios; os gritos de agonia da multidão enchiam os ares. […] Buscavam refúgio nos seus templos e cidadelas, e então o sábio Mu, o sacerdote Ra-Mu, apresentou-se-lhes e disse: Não previ eu tudo isto? E os homens e mulheres cobertas de pedras preciosas e de luzidios vestuários, clamaram dizendo: Mu, salva-nos! E Mu replicou: Morrereis com vossos escravos e vossas riquezas, e de vossas cinzas surgirão novas nações. Se elas se esquecerem de que devem ser superiores não pelo que adquiram mas pelo que dão, a mesma sorte as esperará. As chamas e o fumo abafaram as palavras de Mu, e a terra fez-se em pedaços e afundou-se com os seus habitantes nas profundezas do mar.”
Mu-Ka
A memória desse tempo feliz desgraçado por um povo que se degradou a ponto de perder-se para sempre, ficou eternizada na lenda açoriana da Lagoa das Sete Cidades, as mesmas da Atlântida que ela evoca. A lagoa dividida em duas partes tem a particularidade de uma parte ser de águas azuis e outra de águas verdes, localizando-se no fundo da Caldeira das Sete Cidades, na freguesia do mesmo nome, na ilha de São Miguel. A lenda é a seguinte:
Há muito tempo vivia aqui um rei que governava com despotismo, irado por a sua mulher não lhe dar filhos. Mas apareceu uma “mulher-estrela” que salvou a sua descendência, dando-lhe uma filha em troca dele governar com sabedoria, justiça e bondade. Mais, a “mulher-estrela” impôs-lhe a condição de construir um palácio maravilhoso rodeado pelas sete cidades mas protegido das vistas por altas muralhas de cobre e pedra, onde viveria a sua filha que ele só a poderia ver quando ela fizesse trinta anos de idade. O rei concordou com tudo, mas como era muito impaciente não quis esperar tanto tempo e acabou investindo contra as muralhas. Esse acto descambou num grande cataclismo que se abateu sobre a Terra e afundou as sete cidades mais o palácio, só sobrando as ilhas dos Açores e numa delas as duas lagoas, a verde por causa do vestido da princesa que o perdeu aí tingindo as águas, e a azul por perder os seus sapatos nela que ficou na cor deles. A princesa, entretanto, qual “gata borralheira” desapareceu no fundo da caldeira e até hoje vive num palácio de cristal mais além das águas, mais fundo que o oceano.
Lagoa das 7 cidades
Lagoa das Sete Cidades, ilha de São Miguel, Açores
Segundo os conhecimentos teosóficos, a cor azul assinala Vénus e a constelação da Balança, assim como o verde relaciona-se a Saturno e ao Capricórnio. A Balança através de Saturno influiu na Atlântida: primeiro como princípio de fixação da civilização, depois como motivadora dos estertores telúricos que provocaram o descomunal maremoto que a destruiu e afogou. Saturno expressando Capris expressa o Caprino ou Cumara representativo do Eterno nessa época, o Quarto como Deus Atlasbel, e a Humanidade ao afastar-se da Lei da Deus ditou o seu fim precoce. Isso começou quando o rei déspota descrito na lenda e que era o governante da quarta cidade atlante, de nome Baal-Ima, o “rei-corvo”, casado com a sua filha Kali ou Kaal-Beth, a “rainha negra”, também chamada Goberum, veste humana da Deusa Algol da nebulosa escura “Saco de Carvão”, quis tomar a quinta cidade capital da Atlântida (que como quinta tinha o valor de três: 6.ª, 7.ª e 8.ª), onde vivia a Rainha Mu-Ísis que era a veste humana da Deusa Allamirah, expressiva de Vénus, ou seja, a “mulher-estrela” do conto açoriano. Defendeu-a de Baal-Ima ou Omar o seu filho Mu-Ka, hoje conhecido nos anais ocultos como Rigden-Djyepo, isto é, “Rei dos Jivas” ou a Humanidade, portanto, Rei do Mundo. O deicídio que se seguiu deitou a perder toda a civilização cujos efeitos trágicos penetraram longamente a Raça-Mãe seguinte, a actual Ariana, sentindo-se os seus efeitos até hoje.
A Humanidade atlante também entrou nas lendas populares, sobretudo naquelas das populações costeiras, de que são exemplos notáveis as dos tritões de Sintra e as dos sadãos ou sárrios do Sado. D. Fernando II conhecia-as e por isso terá mandado esculpir o insólito tritão, o Poseidon atlante, em uma das passagens exteriores do seu Palácio da Pena, no alto da Serra da Lua. Fitando a sua figura ameaçadora, acode-me à memória o poema de Augusto Ferreira Gomes, companheiro insuperável de Fernando Pessoa, inscrito no seu livro Quinto Império (Iniciação – II):
A sombra dos titãs envolve a terra…
– Nasce uma névoa para além dos montes –
Um frio agudo toca o plaino e a serra
E passam cismas pelos horizontes.
Hoje alguns já classificam o tritão do Palácio da Pena de alegoria da “Criação do Mundo”, mas resta saber porque… A Serra (Sagrada) de Sintra é alfobre de lendas e mistérios desde sempre. Pedaço da Atlântida que sobreviveu ao Dilúvio Universal, os habitantes posteriores do lugar, nomeadamente os celtas, começaram a difundir a tradição de viverem costa marítima da serra, em grutas que o mar furioso protegia, sereios fantásticos barbudos com caudas de peixes que, vez por outra, apareciam aos navegadores, ora para os proteger, ora para os perder… lendas… mas tema que Plínio o Velho, no século I d.C. e já no período celto-romano sintrense, retomaria e deixaria escrito para a posteridade. Depois, no século XVI, o cronista Damião de Góis retomou a lenda e acrescentou-lhe pormenores que Plínio o Velho não dera, ou seja, “dorou ainda mais a fábula”. Finalmente, no século XIX o rei D. Fernando II de Saxe Coburgo-Gotha comprou o abandonado Convento de Nossa Senhora da Pena convertendo-o em sumptuoso Palácio, e como era um rei romântico (ele foi a expressão máxima do Romantismo em Sintra) apaixonado pela serra e tudo que lhe dissesse respeito, mandou esculpir essa figura fantástica do Tritão sob a janela do edifício, a guisa de evocação e memória dos “habitantes sobrenaturais” do mar de Sintra. Eis a razão de estar aí, no lugar onde arquitectonicamente esse Rei Iluminado pretendeu unir o Oriente ao Ocidente, sim, ao construir o palácio nos estilos oriental (inspirado na Alhambra árabe, na Andaluzia) e ocidental (inspirado no Palácio Real da Baviera, de onde era originário), dando vazão à celebérrima Profecia de Sintra no tocante a “unir o Ganges com o Tejo”, ou seja, o Oriente com o Ocidente, dessa maneira associando o simbolismo do imóvel à Obra do Eterno (Teurgia) como preanuncio do Ex Occidens Lux ou Idade do Espírito Santo a urgir a Oeste do Globo. Nisto se contém a fórmula “Criação do (Novo) Mundo”, tanto valendo por formulação de um Novo Ciclo de Evolução Universal.
Talvez D. Fernando II, por suas ligações ao mundo esotérico da Maçonaria e da Rosa+Cruz, soubesse parcialmente do significado profundo do tritão (mesmo que acaso, numa das suas “perdições” na noite ou no dia sintriano, em cuja serrania costumava “perde-se”, tenha tido o privilégio raríssimo de encontra-se com Gentes del Otro Mundo, parafraseando o ilustríssimo Mário Roso de Luna, não significa que fosse detentor dos Mistérios Primordiais a ver com esta Serra Sagrada marcando geograficamente o Quinto Posto Representativo da Obra do Eterno na Face da Terra, mas também não invalida o facto de ser Iniciado real ou verdadeiro. Sim, porque ser-se Iniciado verdadeiro não implica deter a totalidade da Sabedoria Divina, mas implica, sim, atingir o estado de consciência que confira efectivamente com tal condição bem se podendo chamar Supra-Humana).
800px-Pena_Palace_Triton[1]
Tritão do Palácio da Pena, Sintra
1.º O tritão (evocação neptuniana dada ao deus Poseidon, isto é, o líder espiritual de Poseidonis assinalado em Ra-Mu) representa aqui o povo atlante de Kurat (nome do quinto cantão desse continente), portanto, o povo de Além-Mar, do Ultramar ou ante Dilúvio Universal, donde aparecer este mitológico espécime marinho ou ligado às águas (do Atlântico, topónimo herdado das deusas gregas Atlantes, as mesmas Plêiades ou Krittikas, por sua vez tendo-o dado ao continente onde viviam: a Atlântida).
2.º Como os Iniciados atlantes foram prevenidos antecipadamente pelos seus Mestres da eminência da catástrofe, e logo recolhidos ao seio da Terra fechando as entradas à sua passagem (donde se ver um pouco por toda a serra enormes grutas bloqueadas por toneladas e toneladas de rochedos que impossibilitam a mínima hipótese de avançar), ficando para trás a maioria, quase a totalidade, da população enlouquecida pelos sequazes do 3.º Senhor Luzbel, ou melhor, da sua Chaya ou “Sombra psicofísica” que em revolta tentou o 4.º Senhor, e por este a população caída nas práticas mais nabalescas que só as águas purificadoras do Karma poderiam lavar, purificar, redimir… Pois bem, desse evento da História da Obra do Eterno referente à origem dos Sedotes ou Badagas da Cidade Jina de Sintra, ficou a memória deturpada ou ofuscada pelos milénios de ignorância por apartamento da Lei Eterno, inventando-se a lenda dos sereios que vivem escondidos em grutas na orla marítima da serra, que o mar furioso não deixa que se penetre nelas. O facto dos sereios ou tritões (tritão é a forma mitológica do Deus Neptuno, que no Período Atlante tinha aqui o seu templo de vestais e sibilas e se chamava Rej-Vah, isto é, “Lua Azul”, donde para sempre Sintra ficar tradicionalmente conhecida como Serra da Lua, a mesma azul de Rajas ou o Mar do Akasha Médio, sim, o Trono da Mãe Divina Allamirah. Donde a ligação simbólica – e não só… – de Praia Grande de Sintra a Mar Grande de Itaparica…) encaminharem ou perderem os navegantes, também é lenda (nascida da clarividência involuntária de alguns vendo os “espíritos da Natureza” ou elementais do Plano Etérico, devido a alguma sobrexcitação momentânea): tão-só significa que os Badagas do Inframundo podem muito bem servir de Guias físicos aos Iniciados verdadeiros, mas que arredam de si e do seu meio todos os despreparados e profanos, servindo-se de todas as formas ilusórias akáshicas ou etéricas pelo processo de Maya-Vada, inclusive materializando-as, podendo redundar em graves prejuízos psicofísicos para os que insensatamente se lançam em aventuras espúrias.
3.º Cosmogenicamente, o tritão representa a Hierarquia dos Pitris Barishads, a ancestral oriunda da Cadeia Lunar, e por ser ancestral, anciã ou primordial a figura em questão apresenta-se como um velho barbado; e por o seu Plano mais denso ser o Etérico sob a influência da Lua que regula as marés do oceano da Vida Terrestre, eis a razão da sua cauda de peixe (isto independentemente de Portugal estar sob a égide do signo de Peixes – Júpiter, este o Ancião dos Dias, o Logos Primordial (Sétimo, Astarbel) mais próximo do Eterno; por sua parte, do outro lado do Mar Atlântico ou Atlante o peixe inferior do signo luso (Piscis) aponta o Brasil sob a égide de Virgem – Mercúrio. Mas o signo do Brasil não é o Sol do Rio de Janeiro, isto é, Leão? Sim, mas só para essa cidade capital do Estado, porque o Sol da Nova Aurora é o Oculto que ora desponta no horizonte do Mundo, ou seja, Mercúrio ou Budha (o seu nome sânscrito e pali), correspondendo ao Messias ou Avatara da Nova Era, Maitreya! Isto significa que o Brasil será Trono de Deus na medida em que a Realização de Deus se concretize em plagas lusitanas, concorrendo com as suas sinergias para aí. Não há fórmula para contornar este facto insofismável, por mais engenhosa que alguma teoria solta acaso se apresente.
4.º Antropogenicamente, o tritão representa os 4 elementos naturais reunidos num só sendo, portanto, a Quinta Essência da Natureza, que pela sua condição de primordial ou ancestral representa-se sob o aspecto de ancião. Na figura, tem-se: elemento Terra – a pedra com que foi esculpida; elemento Água – assinalado na concha e pedras de coral em que assenta… a sua condição original ou originária da supradita Cadeia Lunar; elemento Fogo – o tronco de vide com que se faz o vinho que é “fogo líquido”, mas também mental, por a vide ou videira ser símbolo tradicional da Gnose ou Sabedoria Divina. Este tronco seco da Sabedoria Divina bifurca-se ao sair da cabeça do escultórico, assim recambiando para o sentido velado do Y ou da Missão Y, a dos “Sete Raios de Luz” do Logos Único, ficando a Haste Lunar aqui (a que aponta para terra) e a Haste Solar para acolá Além-Mar, o Brasil, a “Nova Lusitânia “ de Pedro de Mariz (século XVII). Está muito bem assim, pois a Obra de Akbel nasceu em Sintra e um dia haverá de concluir-se em São Lourenço, nas Lavras de Minas Gerais.
5.º Servindo de escrotos ao esculpido, aparecem dois girassóis ou helióticos, sim, “gira- sol” ou o Cruzeiro Mágico dos Marizes (como dizia JHS, o mesmo Professor Henrique José de Souza), sinal claro do Novo Pramantha (Novis Phalux ou Palos) locomovido na Terra pelo Poder Iluminado de Kundalini, a Força Armipotente do Espírito Santo que parte do Centro da Terra – Shamballah – projectado pelo seu Logos, a Terceira Hipóstase Divina, a própria Quinta Essência Viva da Natureza, aqui representada na alegoria do Ancião das Idades que a lenda popular, simples e imaginativa, tem tão-só como representação do povo tritão do mar de Sintra.
426675_273155092789383_1752442377_n[1]
Manuel J. Gandra, no seu estudo O Eterno Feminino no Aro de Mafra (edição Câmara Municipal de Mafra, Setembro de 1994), dispõe no Período Atlante a Serra de Sintra avançando muitas centenas de quilómetros para Sudoeste, que após sofrer grande afundamento com este originou-se o actual estuário do Tejo, que antes (Mioceno) desembocava com o Sado num extenso delta comum abrangendo desde Ferreira do Alentejo até Alenquer. Consequentemente, os rios Tejos e Sado eram próximos como próximas das lendas dos tritões de Sintra são as sadinas dos sadãos ou sárrios, como já disse, que viviam junto à península de Setúbal com Tróia defronte, dispondo essa cidade numa origem antediluviana fundada por personagem bíblico.
Com efeito, segundo a fábula etnogénica recolhida e divulgada por Santo Isidoro de Sevilha (ano 560 – 4.4.636), acolhida na Crónica do Mouro Razis, transmitida à tradição monástica portuguesa de Quinhentos e Seiscentos por eruditos de renome, como Manuel de Faria e Sousa, em Europa Portuguesa, vol. I, IX, perpetuada por Frei Bernardo de Brito na Monarquia Lusitana, cap. I, XXII, Setúbal foi fundada pelo neto de Noé e quinto filho de Jafé (Génesis, 10:2), Tubal, tendo escolhido as imediações do Cabo Espichel ou da Senhora de Mu(a) para aí se instalar e daí iniciar o povoamento de toda a Hispânia. Tubal tem relação com Tubalcaim e a tradição da forja subterrânea, ou melhor, do “Ferreiro” ou Serapis que forja e malha os metais com os fogos do seio da Terra. Nisto revela-se Saturno no aspecto ctónico e Marte na faceta metalúrgica, não sendo por acaso ter essa herança arquetípica chegado à actualidade, onde os melhores metalúrgicos do País sediavam-se em Setúbal que, tal como os antigos fenícios deste lugar, consertavam e construíam os navios que se faziam ao largo em rotas transcontinentais, indo mesmo ao continente americano.
Por outro lado, sabe-se que os primeiros habitantes da vizinha Serra da Arrábida foram os sárrios, de que subsistem vestígios de fortificações em vários cabeços da serra. Estes sárrios proto-históricos terão depois sido aglutinados pela cultura romana e da sua época sobrevive a memória descritiva. Assim, segundo André de Resende nas suas Antiguidades da Lusitânia, em Setúbal, a antiga Cetóbriga, a igreja de Santa Maria de Tróia foi levantada sobre o primitivo templo de Júpiter-Amom, de que só sobrou o alpendre. Também na ponta do Outão foram descobertas, em 1644, as ruínas de um templo consagrado ao deus Neptuno (Lua), enquanto no chamado Monte Tormoinho existem as ruínas de um outro templo pressupostamente consagrado a Apolo (Sol). De ambos os templos há provas arqueológicas documentadas.
Pedra Furada - Setúbal
Pedra Furada: ruínas sárrias, Setúbal
Volvendo a Tubal, revelado na função de Manu ou Condutor de Povo, este bem poderia ser o Seth ou Sárrio, fonema inspirando-me esse outro de sáurio, que é dizer, o réptil serpentário que “rasteja”, “escorrega” para as tocas ou lokas dentro da Terra, novo motivo indicador do povo ctónico ou Sedote que, diz a Tradição Iniciática das Idades, habita nas entranhas profundas da Serra da Arrábida, distendida desde o Cabo Espichel até quase às portas de Alcácer do Sal. A península de Setúbal engloba todo o maciço rochoso da Arrábida e tem por axis mundi o próprio Cabo Espichel, o lugar da Senhora de Mu (Mu-Ísis), alusão toponímica à Atlântida como o mesmo País de Mu. Ora, no Portinho da Arrábida há várias grutas e lapas dando entrada nas entranhas da Mãe-Terra, uma delas, a mais famosa, a Lapa de Santa Margarida. Ainda que se diga ser este santuário subterrâneo consagrado à referida santa, na verdade o é a Nossa Senhora da Salvação ou da Galé (nisto como Barca, Arca ou mesmo Agharta… a Terra da Salvação, o Éden Terreal). Como margarida ou margarita é algo precioso, a pérola na interpretação latina, valendo dizer aqui como Jesus o Cristo disse: “não atireis pérolas (margaritas) aos porcos”, ou profanos, para não ser maculado o Mistério Maior do Mundo que é do seu Sanctum-Sanctorum, precisamente assinalado na Senhora da Salvação que é a timoneira segura da Galé, que por sua conotação a Agharta merece o título de Primeira Mãe, Adamita, e Rainha do Mundo, Chakravartini.
Ainda assim, dentro da lapa esteve um altar em honra da virgem e mártir Margarida, diz-se, desde época remotíssima, mas que creio ser dos primórdios da instalação nos arrábidos na serra, no século XVI. A gruta mede mais de 22 metros de comprimento, mas como se complica com outras menores, em algumas partes mede mais de 40 metros; pode conter de 400 a 500 pessoas, que no dia consagrado à santa iam aí realizar uma missa cantada com archotes nas mãos, dando ao quadro geral a impressão fortíssimo de estar-se num Templo Jina em plena celebração. Nesta gruta rebentava uma fonte da mais pura e fina água, que nunca secava. O tecto estava ornado de formosas estalactites as quais, vistas à luz dos archotes, produziam efeitos surpreendentes, havendo ao fundo uma grande ruptura por onde entra o ar e a luz, algumas vezes também o mar. A ermida da gruta é quadrada, fez-se-lhe tecto forrado e pintado com motivos multicores, e estava telhada por causa da água que cai pelos intervalos da rocha. Tendo três nichos adiante e sobre o altar, no central ficava a imagem sagrada da Senhora da Salvação, apresentando na mão direita a galé iconográfica.
Capela Lapa
Lapa de Santa Margarida, Portinho da Arrábida, Setúbal
Defronte da lapa levanta-se sobranceiro ao mar o Penedo. Este, como muitos outros lugares da orla marítima da serra, está ligado à tradição lendária da Arrábida cujo povo conta que ali apareciam homens marinhos, alguns monstros que o traziam apavorado os quais, pelas grandes dimensões, chamavam simplesmente “os homens”. Esta tradição, igual à da costa marítima de Sintra, onde a voz popular jurava ali viverem homens marinhos, sendo humanos barbudos da cintura para cima, e dessa para baixo com caudas de peixes, narrativa que Damião de Góis recolheu e incluiu na sua obra de 1544 Urbis Olisiponis Descriptio. Tudo isso faz-me recuar, mais uma vez, à origem bíblica de Setúbal a partir do Cabo Espichel (ou Capum Capricornicum), pois essa etnogenia sagrada, incluindo os sárrios ou oestrymnia, dos quais descendem as ofiússas ou “mulheres-serpentes” (virgens ou vestais de um culto ctónico primordial, antediluviano em Lisboa ou Ulissipa), tão-só significará uma linhagem real e respectivo povo antecessor do Dilúvio Universal (testemunhado em azulejos na igreja matriz do Monte da Caparica) da Atlântida, cujos melhores da Raça ter-se-iam interiorizado em amplos e profundos espaços abertos no ventre da Terra.
Jardim Botânico de Lisboa
Fonte das Ofiússas, Jardim Botânico, Lisboa
Não deixa de ter algo a ver com o êxodo da Humanidade sobrevivente da catástrofe atlante procurando terra segura o texto inscrito na tábua árabe descoberta recentemente (Agosto de 2009) numa gruta do Vale das Lapas na Serra da Azóia (Sesimbra), portanto, dentro do aro geográfico do Cabo Espichel. A descoberta deveu-se a Rui Francisco e Miguel Amigo, arqueólogos sesimbrenses, constando a tábua árabe de uma peça compacta rectangular com 58 cm de comprimento por 15,5 cm de largura e 1 cm de espessura, estando escrita a Sura 39.ª do Alcorão em estilo cúfico dos dois lados, tornando-a coerente com o que era usado no século XII no contexto almorávida. É possível que o objecto tenha sido escondido na gruta em 1165 ou pouco depois, ano que representa a primeira conquista do castelo de Sesimbra pelas forças cristãs. Apesar do facto deste objecto portador de baraka (bênção) estar ocultado, não deixava de ser benéfico para a região envolvente, porque mesmo que o território caísse nas mãos dos não-crentes a Palavra de Allah permitia a ligação espiritual ao Dar al-Islam na perspectiva do crente islâmico. Provavelmente, quem escondeu esta placa cúfica pretendia simbolizar a fuga do Profeta Maometh para Medina que antecedeu o seu regresso triunfal a Meca. É nisto que se estabelece a simbiose simbólica entre a fuga do Profeta e a fuga do Atlante, como igualmente entre período conturbado de Sesimbra conquistada pelo cristão e a Atlântida devorada pelo oceano.
Tábua+-+Frente+1[1]
Tábua árabe da Serra da Azóia, Sesimbra
Hoje sobrevivem as tradições e memórias, não raro desfiguradas pelas mil e uma lendas e fábulas, uma mais fantástica que as outras, mas que o verdadeiro Iniciado, como Teósofo e não simples teosofista papagueador do que ouviu ou leu, saberá interpretar na devida medida e justa correcção. Não deve esquecer-se, ainda, o que a Geologia tem a dizer sobre a actual Serra da Arrábida: formação que se iniciou durante o Mioceno, sendo o remanescente de uma ilha ou de uma cordilheira outrora mais extensa para Sul e Ocidente. Segundo C. Freire de Andrade, a tectónica do Vale do Tejo e dos vales submarinos ao largo da Costa da Caparica têm relação com as nascentes termo-minerais de Lisboa. Eis mais uma prova cabal da ligação Sintra – Setúbal, esta indesmentível para a própria ciência académica que a afirma. Quanto ao bíblico Seth, os judeus no Livro dos Jubileus descrevem a herança da Península Ibérica a favor Japhet e Ham, isto é, da Terra de Eleição da Nova Jerusalém (Novis Hierusalem) a soerguer, no particular por mentes e mãos sefarditas, nesta parte Ocidental da Terra, e sob a égide dos três descendentes de Adam, o Pai ou Homem Primordial, cujos nomes, por sua vez, carregam a sigla avatárica JHS, neste contexto valendo igualmente por Insignis Homnibus Setubalis.
Finalmente, para fechar com chave de ouro e de volta aos Açores, cedo lugar a Ângela Furtado-Brum que conta a lenda da Atlântida tal como corre nas vozes do arquipélago:
Conta-se que houve em tempos um continente imenso no meio do oceano Atlântico chamado Atlântida. Era um lugar magnífico: tinha belíssimas paisagens, clima suave, grandes bosques, árvores gigantescas, planícies muito férteis, que às vezes até davam duas ou mais colheitas por ano, e animais mansos, cheios de saúde e força. Os seus habitantes eram os Atlantes, que tinham uma enorme civilização, mesmo quase perfeita e muito rica: os palácios e templos eram todos cobertos com ouro e outros metais preciosos como o marfim, a prata e o estanho. Havia jardins, ginásios, estádios… todos eles ricamente decorados, e ainda portos de grandes dimensões e muito concorridos.
As suas jóias eram feitas com um metal mais valioso que o ouro e que só eles conheciam __ o oricalco. Houve uma época em que o rei da Atlântida dominou várias ilhas em redor, uma boa parte da Europa e parte do Norte de África. Só não conquistou mais porque foi derrotado pelos gregos de Atenas.
Os deuses, vendo tanta riqueza e beleza, ficaram cheios de inveja e, por isso, desencadearam um terramoto tão violento que afundou o continente numa só noite. Mas parecia que esta terra era mesmo mágica, pois ela não se afundou por completo: os cumes das montanhas mais altas ficaram à tona da água formando nove ilhas, tão belas quanto a terra submersa __ o arquipélago dos Açores.
Alguns Atlantes sobreviveram à catástrofe fugindo a tempo e foram para todas as direcções, deixando descendentes pelos quatro cantos do mundo. São todos muito belos e inteligentes e, embora ignorem a sua origem, sentem um desejo inexplicável de voltar à sua pátria.
Há quem diga que antes da Atlântida ir ao fundo, tinham descoberto o segredo da juventude eterna, mas depois do cataclismo os que sobreviveram esqueceram-se ou não o sabiam, e esse conhecimento ficou lá bem no fundo do mar… mas que um dia há-de voltar.
OBRAS CONSULTADAS
Vitor Manuel Adrião, História Secreta do Brasil (Flos Sanctorum Brasiliae). Madras Editora Ltda., São Paulo, 2004.
Vitor Manuel Adrião, A Ordem de Mariz (Portugal e o Futuro). Editorial Angelorum, Lda., Carcavelos, Maio de 2006.
Sebastião Vieira Vidal, Série Munindra. Edição Sociedade Teosófica Brasileira, 1965.
A. R. Silva Júnior, A Atlântida (Subsídio para a sua reconstituição histórica, geográfica, etnológica e política). Revista A Arquitectura Portuguesa, Lisboa, Janeiro de 1930 a Maio de 1933.
Cadernos da Tradição – Ecos portugueses da Atlântida. Director: Manuel J. Gandra. Hugin Editores, Lda., Lisboa. Ano II, n.º 3/4, Equinócio da Primavera de 2004.
Juan G. Atienza, Os sobreviventes da Atlântida. Editora Litexa, Lisboa, 1978.
Augusto Ferreira Gomes, Quinto Império. Prefácio de Fernando Pessoa. Parceria de A. M. Pereira – Livraria Editora Lda. 1.ª edição, Lisboa, 1934. Última edição, Lisboa, 2003.
Ângela Furtado-Brum, Açores, Lendas e Outras Histórias. Ribeiro & Caravana Editores, 2.ª edição, Dezembro de 1999.
Martins Sarmento, Antíqua – Apontamentos de Arqueologia. Sociedade Martins Sarmento, Guimarães, 1999.
Luís Gonçalves, Manuel Calado, Rosário Fernandes, Leonor Rocha, Nova Carta Arqueológica de Sesimbra. Universidade de Évora – Câmara Municipal de Sesimbra, 2011.