A grandeza de Portugal, a passada sob a forma de História e a futura sob a forma de profecia, é um desígnio transcendente que Pessoa anuncia nos poemas da Mensagem: a relação passado/presente/futuro impulsiona utopicamente a regeneração da Pátria, num movimento alimentado pelo mito.
Sem esta dimensão mítica tudo não passaria de mera poetização de informação histórica, carente da força enformadora de uma nova era. Pessoa é o poeta iniciático que cumpre a missão de revelar o Portugal Encoberto.» («Mensagem – poema irradiante: messianismo nacionalista / espiritualidade universalista» in Para uma leitura de MENSAGEM de Fernando Pessoa, Mª Almira Soares, Lisboa, Editorial Presença, 2000, pp. 22-27). ...
O título é, só por si, uma porta que contém todo o poema e que é preciso saber abrir.
A palavra portuguesa Mensagem é, como diz, J. Augusto Seabra (in Fernando Pessoa ou o Poetodrama) «derivada anagramaticamente» da fórmula de Anquises, quando explica a Eneias, descido aos infernos, o sistema do Universo: MENS AG[ITAT MOL]EM: o espírito move a massa. É uma maneira de o poeta afirmar logo à partida o seu idealismo absoluto.
«Fernando Pessoa aproveitou toda a simbologia da descida aos infernos para justificar o advento de uma nova Pátria. O título não podia ser mais feliz.
No Livro Sexto de A Eneida, verso 727, de Virgílio, Anquises explica ao seu filho Eneias, que desceu aos infernos, o sistema do Universo. Pessoa, qual outro Anquises, explica aos seus filhos espirituais – os portugueses – o sentido da sua Pátria.
Descida aos infernos da decadência, ela renascerá, como a Fénix, das cinzas e alcançará a etapa final da Perfeição.» (in Aula Viva Português 12º Ano, João Guerra e José Vieira, Porto Ed., 1999).
Luis De Belo Morais
Sem comentários:
Enviar um comentário