A LÂMPADA Portugal,
MARINHA volta ao mar, a teus navios,
Portugal, volta ao homem, ao marinheiro,
... volta à tua terra, à tua fragrância,
à tua razão livre no vento,
de novo
à luz matutina
do cravo e da espuma.
Mostra-nos o teu tesouro,
teus homens, tuas mulheres.
Não escondas mais o rosto
de embarcação valente
posta na vanguarda do Oceano.
Portugal, navegante,
descobridor de ilhas,
inventor de pimentas,
descobre o novo homem,
as ilhas assombradas,
descobre o arquipélago no tempo.
A súbita
aparição
do pão
sobre a mesa,
a aurora,
descobre-a tu,
descobridor de auroras.
Como é possível?
Como podes negar-te
ao ciclo da luz, tu que mostraste
caminhos aos cegos?
Tu, doce e férreo e antigo,
angusto e amplo pai
do horizonte, como
podes fechar a porta
às novas uvas
e ao vento com estrelas do Oriente?
654 Manuel Simões
Proa de Europa, busca
na corrente
as ondas ancestrais,
a marítima barba
de Camões.
Rompe
as teias de aranha
que cobrem teus fragrantes mastros,
e então
a nós, filhos de teus filhos,
aqueles para quem
descobriste a areia
até então obscura
da geografia deslumbrante,
mostra-nos que podes
atravessar de novo
o novo mar obscuro
e descobrir o homem que nasceu
nas maiores ilhas da terra.
Navega, Portugal, a hora
chegou, levanta
a tua estatura de proa
e entre as ilhas e os homens volta
a ser caminho.
Agrega nesta idade
a tua luz, volta a ser lâmpada:
aprenderás de novo a ser estrela.
Pablo Neruda: A Lâmpada marinha 653
V
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