Meditação por Portugal

Ao Encontro da Alma Luzitana

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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

É Bandarra um nome colectivo, e designa, não um só homem,


1. É Bandarra um nome colectivo, e designa, não um só homem, o primeiro português que teve a visão profética dos destinos do país, senão também aqueles outros, que se lhe seguiram, e que, servindo se do seu tipo de visão e da sua forma literária, buscaram legitimamente o anonimato designando as suas trovas como sendo do Bandarra também. A identidade do tema, a semelhança dos processos, proféticos como literários, a perfeita continuidade espiritual dos sequazes com aquele a quem seguiram, justificam que aceitemos, para a simplicidade da alusão, a designação “Bandarra” como distintiva do autor destas profecias.



2. As profecias do Bandarra, tomado o nome naquele sentido, constam de três partes, ou de cinco corpos, conforme a divisão que se prefira. A primeira parte coincide com o primeiro corpo; a segunda inclui os corpos segundo e terceiro; a terceira os quarto e quinto. São relativamente curtos o terceiro e quarto corpo, curtíssimos o último e, ainda mais, o segundo. O primeiro é o mais extenso, o mais variado, o de texto menos certo e, em parte por isso, mas também em parte pela natureza dos seus dizeres, o de mais difícil interpretação. Esta dificuldade de interpretação é de certo modo extensiva ao quinto corpo. A presente edição inclui só a parte média das profecias, ou seja os corpos segundo, terceiro e quarto; são aqueles cujo texto está bem apurado, cuja publicação pode portanto ser feita sem receio, e, com a publicação assim feita, por igual feita sem receio a interpretação que lhe convém.

3. A interpretação, que vai ler se, não me pertence; nela tenho parte somente na redacção. Ignoro, por isso, por que processos se guiaram os seus intérpretes. Importa, de resto, saber tão somente se a interpretação é certa no que diz respeito ao passo, aceitável no que diz respeito ao futuro. O único elemento auxiliar que posso fornecer, para a compreensão dessa hermenêutica, é o que exponho nas considerações que seguem, em as quais disserto, de sumário modo, sobre a natureza geral da interpretação profética. Temos o fenómeno protestante. Mas esse, se bem que menos estrangeiro, é estrangeiro também. Não nos põe sob o domínio e a acção de um potentado temporal europeu, mas o facto é que não nasce da nossa alma nacional, nem tem força de acção que se identifique com as forças do nosso temperamento, popular sobretudo.

Resta um fenómeno: o sebastianismo.

Esse é nacional — mais nacional é impossível exigir —, é popular, porque ninguém sabe como ele nasceu nem de quem. É misterioso, porque no mistério está envolto o desaparecimento de D. Sebastião.



4. O movimento saudosista e a sua base sebastianista. O saudosismo está criando a base intelectual e moral ao sebastianismo, puramente popular.



5. Como implantar o sebastianismo? Se ele tiver de se implantar aparecerá quem o pregue. Mas qual deve ser a acção dos intelectuais? Tripla: (l) atacar o catolicismo, mas atacá-lo sempre com a insinuação do elemento nacional, sempre lembrado, nos interstícios do ataque, a figura nacional de S. Sebastião; (2) criar a atmosfera moral necessária ao saudosismo, base do sebastianismo; (3) alargar a acção deste.



ó. A divinização da Saudade. Pascoaes está criando maiores coisas, talvez, do que ele próprio mede e julga. A alma lusitana está grávida de divino.

s.d.


Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Fernando Pessoa (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1979.
- 51.
http://arquivopessoa.net/textos/1184
É Bandarra um nome colectivo, e designa, não um só homem, 


1. É Bandarra um nome colectivo, e designa, não um só homem, o primeiro português que teve a visão profética dos destinos do país, senão também aqueles outros, que se lhe seguiram, e que, servindo se do seu tipo de visão e da sua forma literária, buscaram legitimamente o anonimato designando as suas trovas como sendo do Bandarra também. A identidade do tema, a semelhança dos processos, proféticos como literários, a perfeita continuidade espiritual dos sequazes com aquele a quem seguiram, justificam que aceitemos, para a simplicidade da alusão, a designação “Bandarra” como distintiva do autor destas profecias.
 


2. As profecias do Bandarra, tomado o nome naquele sentido, constam de três partes, ou de cinco corpos, conforme a divisão que se prefira. A primeira parte coincide com o primeiro corpo; a segunda inclui os corpos segundo e terceiro; a terceira os quarto e quinto. São relativamente curtos o terceiro e quarto corpo, curtíssimos o último e, ainda mais, o segundo. O primeiro é o mais extenso, o mais variado, o de texto menos certo e, em parte por isso, mas também em parte pela natureza dos seus dizeres, o de mais difícil interpretação. Esta dificuldade de interpretação é de certo modo extensiva ao quinto corpo. A presente edição inclui só a parte média das profecias, ou seja os corpos segundo, terceiro e quarto; são aqueles cujo texto está bem apurado, cuja publicação pode portanto ser feita sem receio, e, com a publicação assim feita, por igual feita sem receio a interpretação que lhe convém.
 
 3. A interpretação, que vai ler se, não me pertence; nela tenho parte somente na redacção. Ignoro, por isso, por que processos se guiaram os seus intérpretes. Importa, de resto, saber tão somente se a interpretação é certa no que diz respeito ao passo, aceitável no que diz respeito ao futuro. O único elemento auxiliar que posso fornecer, para a compreensão dessa hermenêutica, é o que exponho nas considerações que seguem, em as quais disserto, de sumário modo, sobre a natureza geral da interpretação profética. Temos o fenómeno protestante. Mas esse, se bem que menos estrangeiro, é estrangeiro também. Não nos põe sob o domínio e a acção de um potentado temporal europeu, mas o facto é que não nasce da nossa alma nacional, nem tem força de acção que se identifique com as forças do nosso temperamento, popular sobretudo.
 
Resta um fenómeno: o sebastianismo.
 
Esse é nacional — mais nacional é impossível exigir —, é popular, porque ninguém sabe como ele nasceu nem de quem. É misterioso, porque no mistério está envolto o desaparecimento de D. Sebastião.
 


4. O movimento saudosista e a sua base sebastianista. O saudosismo está criando a base intelectual e moral ao sebastianismo, puramente popular.
 


5. Como implantar o sebastianismo? Se ele tiver de se implantar aparecerá quem o pregue. Mas qual deve ser a acção dos intelectuais? Tripla: (l) atacar o catolicismo, mas atacá-lo sempre com a insinuação do elemento nacional, sempre lembrado, nos interstícios do ataque, a figura nacional de S. Sebastião; (2) criar a atmosfera moral necessária ao saudosismo, base do sebastianismo; (3) alargar a acção deste.
 


ó. A divinização da Saudade. Pascoaes está criando maiores coisas, talvez, do que ele próprio mede e julga. A alma lusitana está grávida de divino.
 
s.d.
 

Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Fernando Pessoa (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1979.
  - 51.
http://arquivopessoa.net/textos/1184

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